Baviera | Rota secreta da arte de rua de Regensburg
Um peixe-voador pilota um dirigível colorido, erguendo o crânio de seu inventor. Ao lado, uma máquina de escrever flutua no ar, revelando um interior feito de engrenagens. É um mundo de fantasia colorido que adorna as paredes externas do "Palletti Bar", no coração da Pustetpassage, em Regensburg. Entre malvas-rosa e torres históricas, a vista parece um tanto bizarra. Quando Regensburg decidiu abrir áreas de seu centro histórico, estritamente protegidas, para a arte de rua moderna?
A resposta de André Meier é surpreendente. "Nos séculos XIII e XIV!", explica o artista bielorrusso com um sorriso quase imperceptível. É a maneira sutil com que o artista deixa claro que, na Idade Média, era bastante comum pintar artisticamente fachadas de casas góticas. Só muito mais tarde foram adicionadas fachadas barrocas. Meier é um "artista muralista". Ele estudou arte por cinco anos em sua cidade natal, Vitebsk, na Bielorrússia, local de nascimento de Marc Chagall, antes de vir para Regensburg como repatriado em 2010. Ele se apaixonou pelas ruelas encantadoras entre a catedral e a Ponte de Pedra. Que fonte de inspiração artística!
Medo de altura e armadura de cavaleiroMeier rapidamente decidiu embelezar ainda mais a tão bela Regensburg. Desde 2012, ele vem criando murais de grande porte – não por meio de pinturas noturnas com spray, mas de forma totalmente legal, com tinta acrílica, pincéis e rolos, encomendados pela prefeitura ou por clientes particulares. "Se eu precisar de andaimes com aprovação da TÜV para o meu trabalho, é difícil fazê-lo ilegalmente", observa o artista de 41 anos.
No andaime, Meier descobriu, para seu desânimo, que sofre de medo de altura. Por isso, foi preciso um esforço considerável para concluir sua obra de arte mais significativa e maior até hoje. Ela está localizada no pátio do hotel "Münchner Hof". Uma bela dama com armadura de cavaleiro medieval, segurando um cãozinho de estimação nos braços, se estende por cinco andares. A mulher simboliza a cidade de Regensburg, o cão, os cidadãos. Para a gerente do hotel, Kathrin Fuchshuber, é uma ótima alegoria: "O cachorro morde e late, mas a mulher ainda o mantém seguro e protegido. Acho isso ótimo!"
Variedade de motivosAndré Meier criou quase 20 obras de arte públicas em Regensburg até o momento – impressões coloridas do México no restaurante "Guacamole"; animais de zoológico em vestidos casuais, calças de couro e camisas xadrez na Udetstraße; e marcos de Regensburg na área de entrada do centro criativo Degginger. Seu estilo é uma mistura eclética de arte acadêmica, elementos barrocos, Art Nouveau, arte decorativa e arte japonesa. "Hoje, temos que garantir que a nova arte mural se adapte à cidade. Ela precisa ser calma, não muito vibrante; precisa respeitar as paredes, as cores de Regensburg. Então, no final, surge um todo harmonioso", diz Meier, que prefere não falar sobre sua arte – ele quer que ela fale por si.
Quando passeia pelas ruas sempre movimentadas de sua nova casa, passando por pontos turísticos populares como a histórica torrefação de salsichas "Wurstkuchl", ou apreciando o pôr do sol às margens do Danúbio, seu caderno de esboços e caneta estão sempre à mão. Meier adoraria pintar a fachada do Jahnstadion, onde o SSV Regensburg joga atualmente na terceira divisão. Será que um leão da Baviera com a camisa vermelha e branca do Jahn apareceria então? Talvez. Enquanto isso, além de novas encomendas, ele também precisa consertar regularmente murais existentes. "A arte de rua dura de cinco a dez anos", revela o artista. O clima afeta a obra de arte — sol, umidade, mofo. A tinta desbota.
As obras de Gato-M, conhecido como o "Banksy da Baviera", são particularmente frágeis. O madrilenho, que, assim como seu modelo Banksy, trabalha disfarçado e mantém o anonimato, morou em Regensburg até 2021. Ao contrário de André Meier, que estudou arte, Gato-M é autodidata. Sua arte, muitas vezes socialmente crítica, é, por assim dizer, "empapelada". Ele enrolava os quadros, que pintava à mão em casa, e rapidamente os colava nas paredes das casas em ações de guerrilha à meia-noite. Na manhã seguinte, os moradores de Regensburg podiam então se alegrar com um novo Gato-M — por exemplo, o entregador de jornais carregando a manchete "Ame a Vida" debaixo do braço, ou a menina com a placa que dizia: "Mude o sistema, não o clima".
Muitas das obras do espanhol desapareceram desde então, mas um de seus murais mais fotografados em espaços públicos ainda pode ser admirado. Ele está localizado bem ao lado do Schaulager da Galerie Erdel, um edifício românico do século XIII, não muito longe do histórico mercado de peixes. Um menino sopra bolhas de sabão coloridas no ar, que um corvo empoleirado em um galho estoura com o bico.
No Facebook, o artista, que cobre o rosto com um lenço palestino, conta que certa vez se deparou com uma patrulha policial durante uma sessão noturna de colagem. Os policiais, muito educadamente, pediram sua identidade e o deixaram continuar seu trabalho. "Sua obra de arte é tolerada pela cidade", confirma Carolyn Molski, do Turismo de Regensburg. "Ele até foi convidado para exposições e palestras."
Retratos para a eternidadeOleg Kuzenko, no entanto, trabalha com a aprovação expressa da cidade. Não muito longe do Palácio de Thurn e Taxis, o estacionamento Petersweg foi construído há alguns anos. O artista, originário da Ucrânia, reconheceu imediatamente o potencial para um projeto único no muro de concreto adjacente. Sua visão: apresentar as figuras mais importantes da história da cidade em uma galeria de retratos. Nos últimos dez anos, cerca de 130 rostos foram criados, começando com o Imperador Marco Aurélio, que fundou o acampamento legionário de Castra Regina em 121 d.C.
"Selecionei as primeiras 30 pessoas eu mesmo e, depois, recebi ajuda profissional", diz Kuzenko, cujos retratos variam do barroco ao sóbrio. No entanto, todos têm uma coisa em comum: são coloridos. Os moradores de Regensburg parecem gostar. Kuzenko gosta de falar sobre como trabalhar no coração do centro histórico o coloca em contato direto com os espectadores de suas fotos. Recentemente, uma mulher lhe disse: "Que maravilha que esteja tão animado aqui agora."
Charme cômico e estilo de bistrôOutro ponto vibrante que chama a atenção é a torre de arte no pátio do restaurante "Orphée", que exala o autêntico charme de bistrô francês há quase 50 anos e desfruta de status cult em Regensburg. Wim Wenders, por exemplo, elogiou a ideia de que não há lugar mais agradável para não fazer nada. Mesmo assim, o artista da Baixa Baviera, Günther Kempf, veio trabalhar em 2019. Ele foi encarregado de projetar a torre de elevador de doze metros de altura no pátio idílico. Kempf, que se inspira na pintura figurativa, nos quadrinhos, na arte naif e na pintura renascentista, pôs mãos à obra. Ele cobriu a parede com cores vibrantes em estilo pôster, de modo que o olhar dos clientes, saboreando crepes e coq au vin, se voltasse repetidamente para o Pato Donald, uma gueixa japonesa, Popeye com o braço tatuado, Asterix e Cleópatra, Vincent van Gogh ou Tintim.
Na bodega espanhola vizinha, que divide o pátio com o "Orphée", um retrato de Pablo Picasso, em tamanho maior que o natural, observa da parede. E assim o visitante se maravilha com esta cidade relativamente pequena, até um tanto provinciana, no sul da Alemanha, que já produziu grandes nomes da arte de rua — por exemplo, Emanuel Jesse, que agora trabalha para clientes internacionais em Viena, ou Peter Phobia, que agora coleciona prêmios de arte em Nova York.
Então, Regensburg é um paraíso do grafite? Não exatamente. As autoridades de proteção de monumentos acompanham de perto a face histórica desta cidade Patrimônio Mundial da UNESCO. Portanto, os Meiers, Gato-Ms, Kempfs, Kuzenkos e os demais só podem decorar passagens e pátios. Ainda bem que Regensburg tem um total de 50 pátios assim. Há muito espaço para a criatividade!
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