As empresas de eletricidade estão evitando fornecer dados detalhados antes do apagão.

"O diabo está nos detalhes" é muito mais do que um clichê. Negociadores, e especialmente juízes e advogados, sabem disso. Portanto, não é surpresa que esses detalhes estejam sendo guardados como ouro no caso que tenta desvendar a origem do enorme apagão que deixou a Península Ibérica sem energia em 28 de abril.
É esse pequeno detalhe, e nenhum outro tipo de informação, que as empresas de eletricidade e outras partes interessadas no sistema elétrico tentam proteger de instituições externas ao sistema, e o que motivou a denúncia tornada pública ontem pela Entso-e, a associação que representa os operadores europeus de redes elétricas. É semelhante à associação patronal europeia da Red Eléctrica.
A associação patronal Aelec diz que "eles estão enviando todas as informações solicitadas, incluindo as da própria Entso-e".Conforme La Vanguardia pôde confirmar junto a fontes do Ministério da Transição Energética, em 28 de maio, apenas um mês após o aniversário, "a Entso-e contatou o Ministério da Transição Ecológica para solicitar sua ajuda na mediação com os diferentes agentes do sistema elétrico, a fim de reunir as diversas informações exigidas por seus protocolos de análise".
Em resposta a esta solicitação, "o Ministério encaminhou esta solicitação ao Comitê de Análise da Crise Elétrica de 28 de abril, que, em sua última sessão realizada na última sexta-feira, dia 30, se dispôs a contatar os agentes a fim de facilitar a análise que está sendo realizada pela Entso-e", afirmou a organização.
A necessidade de acessar essas informações detalhadas responde à complexidade enfrentada pelas diversas entidades que investigam a origem do apagão. Não apenas pela vasta quantidade de dados que precisam ser avaliados, mas também porque a natureza incomum do evento exige um "estudo extremamente minucioso do ocorrido", confirmam fontes familiarizadas com a investigação.
É necessário determinar se as desconexões conhecidas do sistema são causa ou consequência do problema. Uma instalação pode ser desconectada por motivos de segurança após a detecção de uma oscilação, ou a oscilação pode ser causada por uma desconexão abrupta e antecipada. Para isso, neste ponto da investigação, precisamos nos aprofundar em detalhes de microssegundos, informações disponíveis apenas para os proprietários de cada usina geradora, cada estação da rede ou outras partes interessadas no sistema", especificam as fontes consultadas.
A Aelec, associação das principais empresas de eletricidade espanholas, garante que "eles estão encaminhando todas as informações solicitadas a vários órgãos oficiais espanhóis e agora — quando eles as solicitarem — à própria Entso-e".
Isso apesar de a própria Ministra da Transição Energética, Sara Aagesen, ter insinuado essa tensão no fluxo de informações em sua audiência perante o Congresso na última quarta-feira. "Gostaria de salientar que, na última semana, as informações, digamos, têm chegado em um ritmo muito mais lento. Para dizer o mínimo, as informações estão começando a chegar aos poucos. Portanto, entendemos que isso pode ser devido à crescente dificuldade das informações que estamos solicitando ou porque as informações pertencem a várias empresas, vários operadores. Mas, de qualquer forma, peço que esse espírito de colaboração continue existindo. Estou convencida de que assim será e que vocês nos enviarão as informações o mais breve possível para que possamos continuar avançando", afirmou.
Outras fontes do setor não escondem sua "desconfiança quanto ao uso dos dados pela Red Eléctrica, já que é a principal entidade sob investigação e, com base em algumas declarações públicas feitas por esta empresa pública — sem dados até o momento —, eles podem estar sendo usados para seus próprios interesses, em vez de esclarecer as causas do apagão".
Eles também acrescentam que "por todas essas razões, eles sustentam que as próprias empresas de eletricidade devem ser as responsáveis por reportar diretamente os dados necessários".
lavanguardia