Crise fiscal na Colômbia: como lidar com ela sem uma nova reforma tributária?

A crise fiscal que a Colômbia enfrenta não é mais negada, afirmam especialistas. O déficit estrutural e o aumento dos gastos públicos levaram o país a uma situação em que há uma discussão urgente sobre como corrigir seu curso. Embora o governo insista que a reforma tributária será necessária em 2026, os especialistas consultados mencionam outras ferramentas para lidar com a crise.
Falando sobre essas medidas alternativas, José Ignacio López, presidente da Associação Nacional de Instituições Financeiras (ANIF), diz que "maior flexibilidade orçamentária, cortes de gastos e até mesmo a venda de ativos nacionais são necessários para aliviar a pressão da dívida".
López acrescenta que não descarta a possibilidade de uma reotimização dos ativos do país e que "a alienação ou venda de alguns desses ativos talvez pudesse aliviar a pressão fiscal sobre a dívida. No entanto, é muito importante enviar sinais de austeridade e cortes de gastos".
Do meio acadêmico, Jorge Restrepo, professor da Pontifícia Universidade Xavieriana, destaca que o primeiro passo é reconhecer a magnitude do problema. "Superar o negacionismo é fundamental. A única maneira sustentável de resolver uma crise fiscal é com uma economia em crescimento mais rápido, porque isso amplia a base tributária e gera receitas estáveis."
Restrepo também propõe uma revisão estrutural da matriz fiscal, que inclui a eliminação de subsídios regressivos, como o de combustíveis, a redução de isenções fiscais e ajustes na indexação de despesas operacionais, incluindo folha de pagamento e transferências automáticas.
Na mesma linha, Luis Fernando Mejía, diretor da Fedesarrollo, enfatiza que o ajuste deve ser visível e decisivo. " É necessário um corte significativo nos gastos públicos, como um sinal político e um sinal de confiança nos contribuintes ", enfatizou.
Já o ex-ministro da Fazenda, José Manuel Restrepo, afirma que a austeridade é a chave. "A alternativa é reduzir as despesas operacionais e burocráticas. Se o orçamento fosse austero e adequado, não haveria necessidade de uma nova reforma tributária."

Especialistas concordam que a fiscalização é um dos maiores problemas deste governo. Foto: EL TIEMPO
Um dos principais obstáculos aos cortes de gastos é sua natureza rígida. Como explica Andrés Langebaek, diretor de pesquisa econômica do Grupo Bolívar, quase 85% do orçamento corresponde a itens inflexíveis: pagamento de dívidas, transferências para governos regionais, pensões, saúde e defesa.
"Isso significa que o espaço para cortes é limitado, embora não inexistente. Há espaço para reduzir despesas administrativas, melhorar a eficiência dos gastos sociais e rever subsídios que não atendem aos critérios de progressividade", argumentou.
No entanto, o problema, analisou ele, é político. Em um contexto de tensões sociais e demandas por aumento de gastos em programas sociais, um ajuste fiscal baseado em cortes pode se mostrar impopular. Mesmo assim, economistas concordam que, sem um esforço para racionalizar os gastos, qualquer reforma tributária seria, em última análise, insuficiente.
Segundo o especialista, uma economia em crescimento mais rápido gera mais empregos, aumenta o consumo e amplia a base tributária, reduzindo a necessidade de aumento de impostos.
Nesse sentido, são propostas políticas para impulsionar o investimento, fortalecer a produtividade e melhorar a competitividade. Para alguns especialistas, uma estratégia de médio prazo deve incluir uma reforma que incentive o investimento privado.
Restrepo ressalta que "não se trata apenas de arrecadar receitas, mas também de criar condições para que o país produza mais e melhor. Caso contrário, a carga tributária continuará aumentando nos mesmos setores, o que pode desestimular o investimento".
A proposta de López de desinvestir ativos nacionais para obter recursos extraordinários, reduzir dívidas e aliviar temporariamente a pressão tributária também foi complementada pela possibilidade de fortalecer o combate à sonegação e elisão fiscal, melhorar a gestão da DIAN, avançar na digitalização e fechar lacunas regulatórias dentro desta entidade.

Apresentação do orçamento na Câmara dos Deputados em 29 de julho. Foto: Ministério da Fazenda
O alerta é claro: o ajuste fiscal é inevitável e as decisões tomadas nos próximos meses serão decisivas para a estabilidade econômica do país. Juana Téllez, economista-chefe do BBVA Research, destaca que "um ajuste de gastos rápido e confiável é necessário a partir de 2025. Quanto mais adiado, mais custoso será em termos econômicos e sociais".
Na mesma linha, Juan David Ballén, diretor de Análise e Estratégia da Aval Casa de Bolsa, alerta que, diante da dificuldade de aumentar a arrecadação no curto prazo, " o governo deve se concentrar na reforma dos gastos, mesmo que seja a decisão mais difícil politicamente".
Juan Alberto Londoño, ex-vice-ministro da Fazenda, ressalta que o mais importante é cortar gastos: "O país não pode continuar com gastos excessivos que crescem mais rápido que a inflação. Por outro lado, é imperativo restaurar a confiança nos mercados e, para isso, é preciso preservar a segurança jurídica. Dívidas futuras não podem ser afetadas; elas devem ser honradas, e é preciso dar sinais de que a dívida será paga para que os juros não acabem sufocando o país."
Mais notíciaseltiempo