Tribunal bloqueia tarifas de Trump; a incerteza cresce

Um tribunal federal bloqueou as tarifas de Trump sob a lei IEEPA, mas a Casa Branca irá apelar. Analistas alertam sobre o impacto nos preços, no PIB e no emprego. Saiba mais detalhes.

Um tribunal federal dos EUA bloqueou a imposição de tarifas generalizadas pelo presidente Trump sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) em 28 de maio de 2025, mas a Casa Branca prometeu apelar, mantendo a incerteza sobre a política comercial e seus efeitos na economia.

A política tarifária do presidente Donald Trump enfrentou um revés judicial significativo na quarta-feira, quando o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA decidiu que o governo excedeu sua autoridade ao impor certas tarifas sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) de 1977. Especificamente, a decisão invalidou as chamadas tarifas "recíprocas" e as taxas de 25% sobre importações do Canadá e do México que haviam sido anunciadas sob a lei.

A reação da Casa Branca foi imediata. Autoridades insistiram que a decisão do tribunal não alterará a agenda tarifária geral do presidente, chamando a decisão de um "revés" atribuído a "juízes ativistas". A intenção de recorrer da decisão foi confirmada, o que provavelmente levará o caso ao Supremo Tribunal Federal, prolongando a incerteza nos mercados e entre as empresas.

É crucial observar que nem todas as tarifas impostas pelo governo Trump são afetadas por esta decisão. Tarifas sobre aço e alumínio, bem como sobre automóveis e suas peças — impostas sob a autoridade da Seção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962 — permanecem em vigor. Além disso, tarifas futuras sob esta mesma seção são previstas para outros produtos, como produtos farmacêuticos e semicondutores.

Gráfico mostrando a evolução das tarifas ou uma lista de produtos afetados pelas tarifas (aço, carros, etc.).

Os mercados financeiros estavam inicialmente otimistas após a decisão, esperando que limitar a capacidade de Trump de impor tarifas unilateralmente pudesse evitar maiores danos à economia global. No entanto, a perspectiva de um recurso e a continuação de outras tarifas rapidamente moderaram esse entusiasmo.

Análises econômicas independentes, como a conduzida pelo Yale Budget Lab, pintam um quadro complexo do impacto de todas as tarifas implementadas em 2025, mesmo considerando a revogação de algumas pelo tribunal. De acordo com este estudo:

* A tarifa média efetiva enfrentada pelos consumidores é de 6,9%, a mais alta desde 1969.

* O nível geral de preços deverá aumentar 0,6% no curto prazo, o equivalente a uma perda de poder de compra de aproximadamente US$ 950 por domicílio (em dólares de 2024). As famílias de baixa renda seriam particularmente afetadas.

* Os preços dos veículos motorizados aumentariam 5% a longo prazo, acrescentando cerca de US$ 2.400 ao custo de um carro novo médio.

* O crescimento real do produto interno bruto (PIB) dos EUA seria 0,2 ponto percentual menor devido às tarifas de 2025, e a economia seria 0,1% menor no longo prazo (uma perda anual de US$ 20 bilhões).

* A taxa de desemprego deverá aumentar em 0,1 ponto percentual até o final de 2025, com uma redução de 127.000 empregos assalariados.

* No longo prazo, são esperadas contrações setoriais na indústria (-0,1%), construção (-1,5%) e agricultura (-1,2%).

Em relação ao emprego, os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram para 240.000 na semana encerrada em 24 de maio. Embora o mercado de trabalho em geral seja considerado robusto, com uma taxa de desemprego de 4,2% em abril, alguns economistas estão preocupados, observando que "rachaduras estão começando a se formar na economia e a perspectiva está se deteriorando" devido à incerteza tarifária.

A decisão judicial, embora específica, introduz significativa incerteza jurídica e fragmenta a política tarifária. Enquanto a Casa Branca se prepara para um recurso e considera o uso de outras ferramentas legais, as empresas enfrentam um ambiente regulatório volátil que complica o planejamento de longo prazo e as decisões de investimento. Essa instabilidade pode prejudicar o investimento, incentivar a diversificação das cadeias de suprimentos como medida de proteção e potencialmente exacerbar as pressões inflacionárias se as empresas internalizarem os custos da incerteza ou das tarifas restantes.

As tarifas, ao aumentar os custos para empresas e consumidores, agem como um choque de oferta que complica o mandato do Federal Reserve de controlar a inflação e manter o pleno emprego. O presidente do Fed, Jerome Powell, observou que as tarifas estão impactando negativamente a confiança e que o risco de maior desemprego e inflação é alto. Se o Fed decidir apertar a política monetária para combater a inflação provocada por tarifas, isso poderá desacelerar ainda mais o crescimento econômico. Não fazer isso pode levar a uma inflação persistente, criando um cenário difícil de potencial estagflação.

"Este é um sinal de que rachaduras estão começando a se formar na economia e que as perspectivas estão se deteriorando. Não há nada de bom nos dados de pedidos de seguro-desemprego de hoje, e o aumento nas demissões pode ser um prenúncio de coisas piores que estão por vir." – Christopher Rupkey, economista-chefe da FWDBONDS.

A análise também destaca que as tarifas tendem a ser regressivas, afetando desproporcionalmente as famílias de baixa renda, que gastam uma parcela maior de seus orçamentos em bens comercializáveis ​​cujos preços aumentam. Embora um dos objetivos declarados da política tarifária seja proteger e revitalizar a indústria americana, estudos sugerem que, a longo prazo, até mesmo esse setor poderá sofrer uma contração, assim como a construção e a agricultura. Isso levanta questões sobre a eficácia das tarifas como uma ferramenta para atingir os objetivos industriais declarados e ressalta o risco de consequências não intencionais que podem superar os benefícios pretendidos.

Impacto econômico estimado das tarifas dos EUA em 2025 (de acordo com o Yale Budget Lab)

| Indicador Econômico | Impacto estimado |

|—|—|

| Taxa Tarifária Efetiva Média | 6,9% (maior desde 1969) |

| Aumento do Nível de Preços (perda por domicílio) | 0,6% a curto prazo (US$ 950 por domicílio/ano em dólares de 2024) |

| Impacto nos preços dos veículos (longo prazo) | +5% (aproximadamente +US$ 2.400 em um carro novo médio) |

| Mudança no crescimento do PIB real | -0,2 pontos percentuais (economia 0,1% menor no longo prazo) |

| Variação da taxa de desemprego (final de 2025) | +0,1 ponto percentual |

| Mudança no emprego da folha de pagamento (final de 2025) | -127.000 empregos |

| Mudança na produção industrial (longo prazo) | -0,1% |

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