Chefs ilustres e críticos temidos, nas livrarias 'Papille' Andrea Fassi

Uma disputa entre chefs ilustres e críticos temidos, entre degustações e caldos de "ervas venenosas", vingança, jornadas de descoberta do ambiente criminoso e da maestria, mas acima de tudo, eles próprios, sua profissão, a precariedade emocional em que o protagonista "flutuou" por toda a vida. O título do romance de Andrea Fassi, publicado pela Coda di Volpe (17,10 euros), é "Papille". O livro começa com a história da brilhante carreira do renomado crítico gastronômico Papille, que é repentinamente interrompida após uma degustação no restaurante do pequeno e estrelado chef Mauro Sagripanti. O caldo que lhe é servido contém a erva-de-passarinho de Mantegazza, uma erva venenosa que queima sua língua e o faz perder o paladar.
Determinado a se vingar, Papille viaja para a Basilicata em busca de provas que possam incriminar Sagripanti. Lá, fazendo-se passar por um operário, ele acabará vivenciando em primeira mão o ambiente criminoso que cerca o sistema de chefia de gangues, seguindo um caminho que se provará uma oportunidade de se reconciliar consigo mesmo, com sua profissão e com sua humanidade. Como afirmado na introdução da obra, "'Papille' é uma obra de ficção. Nomes, personagens, instituições, lugares e episódios são produto da imaginação e não devem ser considerados reais. Qualquer semelhança com fatos, cenários, organizações ou pessoas, vivas ou mortas, reais ou imaginárias, é mera coincidência."
A narrativa se desenrola entre interiores domésticos e vida cotidiana, memórias do passado e memórias de infância, citações ('Eu luto contra a comida como um objeto de moda, como um demônio colocado entre si e a satisfação de um desejo. Comida é nutrição e qualquer significado diferente dela deve ser condenado', 'Um verdadeiro crítico gastronômico deve ser invisível, silencioso, não um palhaço da internet. Elegante, discreto, desprovido de atividade social. Um fantasma que pica a gastronomia italiana. Isso é o que um crítico deve ser', ou 'Chefs, confeiteiros, sorveteiros, criativos, designers de alimentos, fotógrafos de alimentos, blogueiros, agentes de chefs proliferam, gerentes de alimentos, empreendedores do setor, vídeos tutoriais de alimentos, guias, prêmios, estrelas, camarões proliferam, livros, influenciadores gastronômicos proliferam').
"Papille" é também e acima de tudo uma jornada para descobrir universos desconhecidos, para descobrir a miséria física e moral, para descobrir a si mesmo, sem jamais negar o próprio ego inquebrável, num confronto próximo, silencioso, por vezes "consternado, raivoso, destrutivo" com o outro, seja ele um ilustre chef ou um garçom em restaurantes sofisticados. "Veja bem, doutor", confessa o protagonista no livro, "meu trabalho é um ato de fé. É a minha maneira de responder ao vazio. Engulo, engulo e julgo os outros para não me julgar, como pedaços de ego. No entanto, é um trabalho meticuloso, marcante. Meu julgamento culinário é implacável, mas também perfeito".
'Papille' é contada em 43 capítulos, com títulos suculentos e exuberantes que remetem à culinária, evocam seus aromas, paladar, cheiro. 'Batatas fritas com alho e páprica', 'Mignon vegano, tofu, cacau e berinjela', 'Falange de caranguejo oceânico', 'Paella suculenta', 'Sopa de morcego'), cada seção uma micro história com personagens que o leitor conhece e encontra na longa jornada da protagonista, uma existência, entre 'alto e baixo', pequenos crimes, meio ambiente e 'amizades' pouco confiáveis, mulheres fascinantes e atormentadas, o mundo belo, abafado, riquíssimo, respeitado. Como a protagonista escreve, confessando, em um dos últimos capítulos do livro, que termina 'imersa no aroma de vieiras em Marsala': 'Eu sou o que faço. Sou temida, odiada e respeitada pelo que faço. Sou um reflexo da minha profissão'.
Adnkronos International (AKI)