Consumo responsável, inovação e produtos premium: mixologia contada por Giuseppe Gallo

Do foco crescente no consumo consciente à redescoberta de destilados históricos em tom contemporâneo, o panorama da mixologia está se transformando rapidamente. Em um momento em que a Geração Z está reduzindo o consumo de álcool em favor de produtos premium e bartenders e marcas estão sendo convocados a reinventar a experiência de beber, é essencial ouvir aqueles que perceberam – e guiaram – essas mudanças antes de muitos outros.
Giuseppe Gallo, empreendedor, mixologista internacional e CEO da Italspirits , agência especializada em inovação e estratégia para marcas de bebidas, fala sobre a evolução do setor, entre novos modelos de consumo, escolhas estratégicas de longo prazo e coquetéis com baixo teor alcoólico que não abrem mão da criatividade e da complexidade. Uma entrevista que também é uma reflexão sobre o futuro do setor, vista por quem conhece seus ritmos, desafios e potencial em escala global.
Sem ou com baixo teor alcoólico e a Geração Z: realidade, não modaBebidas com baixo ou nenhum teor alcoólico estão há muito tempo no centro das discussões no mundo das bebidas, mas qual é o verdadeiro alcance dessa tendência? Estamos diante de uma moda passageira ou de uma transformação estrutural do setor?
Giuseppe Gallo enfatiza como a tendência está em constante crescimento, especialmente no que diz respeito às novas gerações, e acrescenta: “A categoria sem baixo teor alcoólico representa, sem dúvida, uma oportunidade para toda a indústria de bares. De fato, abre espaço para a inovação, permitindo-nos expandir a oferta para um público cada vez mais atento e diversificado”. Uma forma de satisfazer diferentes tipos de clientes, da forma mais inclusiva possível. “Além disso”, acrescenta, “novas oportunidades de consumo estão se abrindo, desde o aperitivo, passando pelos coquetéis para acompanhar as refeições, até os drinques highball ideais para saborear ao longo do dia”.
E por falar em novas gerações, como os hábitos de consumo da Geração Z estão mudando as regras do jogo para quem trabalha no mundo das bebidas destiladas e da mixologia?
“Nesta geração, há uma maior conscientização sobre a abordagem responsável ao consumo de bebidas alcoólicas; a Geração Z prefere um consumo menos frequente, mas de qualidade, mesmo a um custo mais elevado”. Além disso, segundo o mixologista, a tendência de bebidas sem baixo teor alcoólico estimula a criatividade e a experimentação entre bartenders e produtores, impulsionando o setor para novas fronteiras do paladar: do umami aos coquetéis com azeite e kombucha.
Nesse contexto, o consumo consciente pode se tornar também um motor econômico para o setor, e não apenas ético?
“Esse tipo de consumo certamente estimula mais criatividade no setor, na busca por ingredientes selecionados e de maior qualidade para satisfazer um consumidor consciente e disposto a gastar mais. - diz Gallo - Naturalmente, com o tempo, pode se tornar um veículo econômico cada vez mais importante, pois o consumidor de coquetéis com baixo teor alcoólico tem a possibilidade de beber mais de uma bebida”.

Como CEO da Italspirits, Gallo relançou um licor tradicional como o rosolio de forma contemporânea, dando vida ao Italicus Rosolio di Bergamotto. Mas como surge essa ideia e quais são os principais obstáculos para o posicionamento de um produto tão diferenciado?
“A ideia de trazer o rosolio de volta à moda nasceu de uma visão que tive durante os anos em que pesquisava vermute e amarí em licores italianos na Universidade de Turim”, explica o empreendedor. “A bergamota, por outro lado, vem de uma doce lembrança que tenho desde a infância: minha mãe, aliás, preparava licores caseiros com diversas frutas cítricas e frutas típicas do sul da Itália, incluindo bergamotas da Calábria. Considerando meu desejo e minha vontade de levar o Made in Italy para o mundo todo, fundi ambos os elementos em um produto no qual a tradição do rosolio italiano se combina com a singularidade da bergamota IGP da Calábria.”
Gallo explica que, diante de um produto único, o principal desafio era promover uma categoria quase esquecida e um ingrediente ainda pouco conhecido internacionalmente, como os cítricos da Calábria. “Hoje”, diz ele, “temos orgulho de dizer que trouxemos a Bergamota para os melhores bares de coquetéis do mundo e revivemos o Rossolio, após mais de cem anos de esquecimento, demonstrando que as tendências não precisam ser necessariamente seguidas; em vez disso, é possível criar novas ideias mantendo-se firmemente enraizado na própria identidade, inspirando-se no imenso patrimônio histórico e gastronômico do nosso belo país.”
Além do Italicus, a agência de Giuseppe Gallo também criou o Savoia Rosso e o Orancio, dois aperitivos de baixo teor alcoólico: qual o posicionamento estratégico dessas marcas dentro do portfólio?
“Savoia é um vinho aperitivo que representa uma alternativa moderna e vegana aos vermutes e bitters tradicionais, criado com uma seleção de ingredientes naturais e enriquecido com vinhos italianos selecionados especificamente”, explica o mixologista. “As duas versões – acrescenta – Rosso, inspirado na história de Giuseppe Garibaldi e na expedição dos mil, e Orancio, criado a partir da história de Marco Polo e dos contos de Milione, são propostas como aperitivos ideais em garrafas prontas para servir com gelo, ou como bases originais para coquetéis clássicos, como Spritz ou Americano.”
E recentemente, o Savoia Rosso conquistou três Medalhas de Ouro no World Liqueur Awards, incluindo o título de Melhor Aperitivo do Mundo. "Este reconhecimento celebra a essência do Made in Italy que o Savoia personifica", disse o empreendedor. "Estou muito orgulhoso desta conquista, que mostra que a inovação ainda é possível mesmo em uma categoria tradicional como o vermute."
Gallo explica então os critérios com os quais, como CEO da Italspirits, seleciona projetos e investimentos em um setor cada vez mais competitivo. "Investir no mundo das bebidas exige coragem, visão e propensão ao risco: o sucesso nunca é garantido", ressalta. "Isso é acompanhado pela busca contínua por novas tendências, tendências de mercado e comportamento do consumidor, além da capacidade de identificar categorias com potencial inexplorado, muitas vezes ignoradas por exigirem pesquisa aprofundada, adaptação e maior esforço."
O empreendedor identifica duas regras-chave: "O projeto deve ser de médio ou longo prazo e sempre com escopo internacional; deve ter ligação direta ou indireta com o mundo das bebidas. Graças a esses dois pontos fixos em nossa estratégia, nos últimos dez anos trabalhamos e investimos em marcas, eventos, mídia, bares de coquetéis, e-commerce, CBD, cervejas e muito mais entre o Reino Unido, a Itália e os EUA".
O Futuro dos Bartenders e da MixologiaConsiderando as tendências e inovações do setor mencionadas, como o papel do bartender está mudando no mercado atual? Quais habilidades são essenciais hoje?
“É preciso haver atualização constante do barman sobre as últimas técnicas e tendências de trabalho”, explica Gallo, que acrescenta: “Muitas empresas oferecem treinamentos direcionados a categorias específicas de destilados e também sobre novos processos, colaborando com bartenders internacionais, reconhecidos por sua capacidade de disseminar conhecimento para as novas gerações”.
Um exemplo disso é o programa Desafio Aperitivo Art of Italicus: “Todos os anos, propomos um plano de mentoria para apoiar o desenvolvimento profissional dos bartenders que participam da competição de coquetéis. Nos últimos anos, colaboramos com os melhores bares do mundo: do SIPS em Barcelona ao Bar Leone em Hong Kong.”
Por fim, um olhar para o futuro. Com a dupla função de mixologista e empreendedor, como Giuseppe Gallo vê a evolução deste mundo nos próximos cinco anos? E que conselho ele daria hoje a um jovem empreendedor que deseja inovar no setor de bebidas?
“O mundo da mixologia — diz ele — está evoluindo ao longo do tempo, mantendo uma forte conexão com os coquetéis clássicos, mas revisitando-os de forma moderna, com ingredientes novos e de qualidade. Hoje, vemos o Spritz crescendo em dois dígitos em nível global e certamente será um dos coquetéis que nos surpreenderá novamente.”
“Para um jovem empreendedor que deseja inovar, aconselho a não procurar ou replicar um projeto ou fórmula vista online, aconselho a correr riscos de vez em quando e ter uma visão clara do objetivo final. Mas, acima de tudo, nunca abrir mão da qualidade dos ingredientes, pois o produto é o core business da nossa indústria”, conclui Gallo.
La Repubblica