Espaçonave obtém a primeira imagem já feita do polo sul do Sol

A espaçonave robótica Solar Orbiter obteve as primeiras imagens já feitas do polo sul Sol. Os registros, divulgados nesta quarta-feira (11) pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), foram feitos em março com a utilização de instrumentos a bordo da sonda.
As imagens mostram o polo sul a uma distância de cerca de 65 milhões de quilômetros e foram obtidas em um período de máxima atividade solar. Imagens do polo norte ainda estão sendo transmitidas pela espaçonave.
Desenvolvida pela ESA em colaboração com a Nasa, a Solar Orbiter foi lançada em 2020.

Até agora, todas as visualizações do Sol vieram do mesmo ponto de observação: olhando de frente para seu equador a partir do plano em que a Terra e a maioria dos outros planetas do Sistema Solar orbitam, chamado de plano eclíptico.
Em fevereiro, a sonda utilizou um sobrevoo de efeito estilingue ao redor de Vênus para sair desse plano e observar o Sol a partir de até 17 graus abaixo do equador solar. Futuros sobrevoos de efeito estilingue proporcionarão uma visão ainda melhor, além de 30 graus.
"O melhor ainda está por vir. O que vimos foi apenas uma primeira olhada rápida", disse o físico solar Sami Solanki, do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar na Alemanha. Ele lidera a equipe científica de um dos instrumentos da espaçonave.
"A espaçonave observou ambos os polos, primeiro o polo sul depois o polo norte", afirmou Solanki. "Os dados do polo norte chegarão nas próximas semanas ou meses."
A Solar Orbiter está coletando dados sobre fenômenos que incluem o campo magnético do Sol, seu ciclo de atividade e o vento solar, um fluxo incessante de alta velocidade de partículas carregadas que emanam da camada atmosférica mais externa da estrela e preenche o espaço interplanetário.
"Não temos certeza do que vamos encontrar, e é provável que vejamos coisas que não conhecíamos antes", disse o físico solar Hamish Reid, do Laboratório de Ciência Espacial Mullard da University College London. Ele é coinvestigador principal do Reino Unido de um dos instrumentos da sonda.
O Sol é uma bola de gás eletricamente carregada e quente que, ao se mover, gera um poderoso campo magnético, que se inverte de sul para norte e vice-versa a cada 11 anos no que é chamado de ciclo solar.
O campo magnético impulsiona a formação de manchas solares, regiões mais frias na superfície da estrela que aparecem como manchas escuras. No início do ciclo, o Sol tem menos manchas solares. O número delas aumenta conforme o ciclo progride, antes de começar tudo de novo.
"O que nos faltava para entendê-lo [o ciclo solar] é o que está acontecendo no topo e na base do Sol", disse Reid.
O diâmetro do sol é de cerca de 1,4 milhão de quilômetros, mais de cem vezes maior que a Terra.
"Enquanto a Terra tem um claro polo norte e sul, as medições da Solar Orbiter mostram que campos magnéticos de polaridade norte e sul estão atualmente presentes no polo sul do sol. Isso acontece durante o máximo de atividade do ciclo solar, quando o campo magnético do Sol está prestes a se inverter. Nos próximos anos, o Sol alcançará o mínimo solar, e esperamos ver um campo magnético mais ordenado ao redor dos polos do sol", explicou Reid.
"Vemos nas imagens e vídeos das regiões polares que o campo magnético do sol está caótico nos polos na fase [atual] do ciclo solar —alta atividade solar, máximo do ciclo", acrescentou Solanki.
O Sol está localizado a cerca de 149 milhões de quilômetros do nosso planeta.
"Os dados que a Solar Orbiter obterá durante os próximos anos ajudarão os modeladores a prever o ciclo solar. Isso é importante para nós na Terra porque a atividade solar causa erupções solares e ejeções de massa coronal que podem resultar em interrupções nas comunicações de rádio, desestabilizar nossas redes elétricas, mas também produzir as sensacionais auroras", disse Reid.
"O novo ponto de observação da Solar Orbiter também nos permitirá obter uma imagem melhor de como o vento solar se expande para formar a heliosfera, uma vasta bolha ao redor do Sol e seus planetas", acrescentou o físico.
Uma espaçonave anterior, a Ulysses, sobrevoou os polos solares na década de 1990.
"A Ulysses, no entanto, era cega no sentido de que não carregava nenhum instrumento óptico —telescópios ou câmeras— e, portanto, só podia sentir o vento solar passando diretamente pela espaçonave, mas não podia fotografar o Sol", disse Solanki.
uol