Macron no Reino Unido para visita de Estado ‘à antiga’

Pompa e circunstância para indicar que o Canal da Mancha continua a unir a União Europeia e o Reino Unido. Para limitar a ‘festa’, a imigração e a Ucrânia estão no topo da agenda.
O líder francês está no Reino Unido para uma visita de Estado de três dias, que inclui conversações políticas e cerimónias reais – transmitindo ao encontro entre os dois países um cerimonial que os analistas observam como uma tentativa de deixar entender que o entendimento entre ambos – que se estende à União Europeia – é perfeito, passado que está o pior do Brexit. Não por acaso, é o Partido Trabalhista, anti-Brexit, que governa o reino por estes dias, tendo envidado esforços para uma reaproximação aos antigos ‘partners’, que não escapou à direita radical britânica – que se tem queixado de que o primeiro-ministro Keir Starmer está a tentar reverter uma escolha dos britânicos legitimada pelo referendo de 2016. Há mesmo quem diga que os trabalhistas podem cair na ‘tentação’ de, para o ano, quando passar uma década da auscultação pública, lançarem a possibilidade da sua repetição.
Mas, se o momento é de pompa e circunstância, matéria em que ninguém leva a palma aos britânicos, a agenda – que terá também no topo o desenvolvimento das relações económicas bilaterais – é muito menos ‘festiva’: a imigração ao longo do Canal da Mancha e os avatares do apoio europeu à Ucrânia, área onde Starmer e Macron disputam com entusiasmo a liderança europeia.
Nesta matéria, e segundo as agências noticiosas, Macron e Starmer deverão avançar com planos para a criação de uma força de segurança na Ucrânia após o cessar-fogo – uma ideia já avançada pelo líder francês que foi rejeitada pelos Estados Unidos. Os dois países fazem parte da chamada ‘coligação dos dispostos’ (ou dos disponíveis), apresentada como um esforço da Europa para defender a Ucrânia – que teve o condão de, mais uma vez, deixar claro que ou esse esforço vem diretamente dos Estados Unidos, ou não chega para nada. As declarações mais recentes do presidente ucraniano, segundo as quais a maior necessidade do seu país são os mísseis Patriot, reforçam essa evidência.
A visita de três dias de Macron – que surge a convite do rei Carlos III – é a primeira visita de Estado ao Reino Unido de um chefe de Estado da União Europeia desde o Brexit e é considerada um indicativo do desejo do governo de Starmer de restabelecer as relações com o bloco.
Amanhã, quinta-feira, altos funcionários dos dois países deverão discutir a travessia de pequenas embarcações, uma questão espinhosa para os governos de ambos os lados do canal. Todos os anos, milhares de migrantes tentam chegar ao Reino Unido a partir do norte de França, muitas vezes escondendo-se em camiões ou atravessando o Canal da Mancha exatamente nessas pequenas embarcações.
Em resposta, o Reino Unido assinou vários acordos com a França para reforçar as patrulhas nas praias e partilhar informações com o objetivo de desmantelar as redes de contrabando. No entanto, avança a agência Euronews, os acordos tiveram um impacto limitado: em 2024, foram detetadas cerca de 37 mil pessoas a atravessar o Canal da Mancha em pequenas embarcações – o segundo valor anual mais elevado, depois das 46 mil em 2022. Os números aumentaram no primeiro semestre deste ano: mais de 20 mil pessoas fizeram a travessia nos primeiros seis meses de 2025, um aumento de cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado.
Starmer comprometeu-se a “esmagar os bandos” por detrás do contrabando organizado de pessoas, mas a passagem do slogan eleitoral à prática tem-se revelado mais difícil do que o esperado. O plano dos trabalhistas assenta numa cooperação mais estreita com a França e com os países da Europa de Leste, que recebem diretamente o trânsito dos imigrantes do Médio Oriente em viagem para os países mais ricos.
O governo francês está a considerar a possibilidade de alterar a sua legislação para permitir que a polícia intervenha em águas mais profundas. Atualmente, a sua autoridade restringe-se em grande medida à linha costeira, a menos que seja necessário socorrer embarcações em dificuldades.
jornaleconomico