Morningstar DBRS: Clubes europeus à procura de tornar novos estádios em minas de ouro
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A Europa tem assistido a uma onda de anúncios sobre remodelações de estádios na Europa, de que são exemplos os do Manchester United ou do Valência, que, segundo a Morningstar DBRS, devem ajudar os clubes a aumentarem as suas receitas.
A agência de crédito antecipa esta tendência como resultado de um enfraquecimento do ambiente dos direitos televisivos, a par com o impacto da regulação económica da UEFA e das ligas europeias, que ligam os gastos com jogadores às receitas. Neste sentido, para aumentar os proveitos e elevar o orçamento para os plantéis, os clubes estão a apostar as fichas nos estádios.
As remodelações dos estádios também abalam o financiamento dos clubes, verificando-se uma mudança para modelos e estruturas de dívida a longo prazo, sendo que clubes de "primeira" podem ter "ratings" de crédito para investimento desde que a entidade financiadora tenha uma finalidade especial (StadCo), apoiada por fluxos de receitas relacionados com estádios bem diversificados e altamente resilientes, como vendas de bilhetes, área VIP, direitos de "naming" ou outras receitas de patrocínio, a qual beneficiaria de um rácio mínimo de cobertura do serviço da dívida superior a duas vezes, refere.
A Morningstar DBRS assinala que, depois de uma década de prosperidade para os clubes de futebol, os recentes concursos de direitos televisivos têm sido desapontantes, dando como exemplo mais paradigmático os direitos de transmissão nacionais da Série A (Itália) e da Ligue 1 (França) que mostram quebras de 3% e de 33%, respetivamente, face aos acordos anteriores. Além disso, os da Premier League (Inglaterra) foram renovados com um aumento marginal (3%), ou seja, aproximadamente menos 20% do que o aumento do ciclo anterior por jogo transmitido. No caso da Bundesliga (Alemanha) houve um aumento do valor dos seus direitos televisivos para as próximas quatro épocas, apesar de se traduzir numa subida de apenas 2% face ao ciclo precedente. A análise inclui as cinco principais ligas, juntando-se a estas a espanhola, pelo que não refere dados para a portuguesa.
Segundo a UEFA, há mais pessoas a ver futebol na Europa do que nunca, uma afirmação que, nota a agência de notação, está no entanto desalinhada com a evolução dos direitos televisivos. Mesmo os dos atuais da UEFA, na sequência de uma mudança de formato nas suas competições europeias, regista uma diminuição de 7% nas receitas para os clubes por jogo transmitido, apesar do aumento das receitas brutas (+26% de 3,5 mil milhões para 4,4 mil milhões de euros), o que foi compensado pelo aumento de 30% no número de jogos das três principais competições europeias.
Um dos principais motivos para os clubes modernizarem os seus estádios têm sido grandes eventos desportivos, como os Olímpicos (Londres 2012 e Paris 2024), o Mundial (França 1998, Alemanha 2006) ou o Europeu (França 2000 e 2016 e Alemanha 2024). Os últimos grands eventos desportivos que Espanha e Itália acolheram foram os Mundiais de 1982 e 1990, respetivamente, e a grande parte das remodelações dos estádios nestes países tiveram lugar antes destes torneios. Mas isso está prestes a mudar, com a Morningstar DBRS a assinalar que Espanha, a par com Portugal e Marrocos, vai acolher o Mundial de 2030, enquanto Itália, junto com a Turquia, o Europeu de 2032.
"Esperamos que estas competições levem a investimentos de grande escala nos estádios e que os clubes em Espanha e em Itália que os detêm encurtem a distância em termos de capacidade de geração de receita face aos da primeira liga inglesa", refere a agência.
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