Para além dos incêndios: a importância de criar sinergias globais para a biomassa

É sabido que os oceanos são os maiores captadores de CO2 do mundo – esse papel não cabe apenas à Amazónia. O fitoplâncton dos oceanos é responsável por capturar dois terços do CO2 da Terra. E sabia que foi descoberta em Chernobyl uma pequena “erva daninha” que se alimenta de radiação? É precisamente neste contexto que a biomassa surge como uma solução fundamental, não só para alcançar a neutralidade carbónica, mas também para inovar em áreas como a saúde, cosmética e alimentação.
É urgente que o governo, as autoridades locais, as empresas, as universidades e as comunidades reforcem a cooperação para explorar em conjunto todo o potencial da biomassa em Portugal, que vai além do importante papel que as centrais de biomassa desempenham na prevenção de incêndios florestais.
As centrais de biomassa são um forte aliado na prevenção de incêndios, os quais, no ano passado, foram responsáveis por queimar de mais de mil quilómetros quadrados do nosso país. Mas os seus benefícios vão além disso.
Esta fonte de energia limpa é uma ferramenta poderosa e inevitável para alcançar os objetivos de neutralidade carbónica até 2050, e não é por acaso que a biomassa é a principal fonte de energia em Portugal e continuará a crescer. É a forma de descarbonizar mais rapidamente e com menos custos.
As centrais de biomassa podem, no futuro, ser biorrefinarias, onde a biomassa é valorizada de várias formas antes de ser queimada para produzir energia. Por exemplo, a produção de biodiesel ou óleos essenciais. Esta visão e estratégia podem transformar o interior do país num motor industrial que valoriza as florestas e as regiões envolventes.
É por isso que é crucial não só avançar rapidamente com concursos para novos projetos de biomassa, mas também criar sinergias robustas entre o governo, as autoridades locais, as empresas, as universidades e as comunidades para fortalecer a cadeia de valor da biomassa.
Estas sinergias envolveriam mais parcerias entre empresas privadas do setor, universidades e autoridades locais, por exemplo, para partilhar custos, partilhar riscos e promover a inovação, ou mesmo um maior envolvimento das comunidades locais, destacando os benefícios da biomassa e o seu potencial para criar empregos e riqueza, particularmente nas zonas rurais que dependem fortemente da agricultura e da silvicultura.
As empresas do setor podem também reforçar a sua cooperação, nomeadamente no desenvolvimento de tecnologias e práticas mais eficientes na produção e utilização da biomassa, bem como exercer a sua influência junto das autoridades públicas, a fim de acelerar a aprovação de mais projetos de biomassa, o que aproximaria Portugal do seu potencial de produção de energia limpa e de valor acrescentado.
Neste contexto de maiores sinergias, é também possível desenvolver ações para aumentar a formação dos agricultores e dos trabalhadores rurais, a fim de incrementar a sua compreensão sobre o potencial e os benefícios da biomassa.
A nível governamental, para além da necessidade urgente de aprovar novos concursos, deve ser destacado o desenvolvimento de políticas e incentivos que promovam uma maior utilização da biomassa, tais como o acesso a subsídios ou benefícios fiscais que favoreçam a produção e utilização de energia proveniente desta fonte renovável.
É isso que muitos de nós, nomeadamente a Central de Biomassa do Função, já estamos a fazer. A construir e a consolidar uma economia circular onde as sinergias dos vários atores envolvidos convergem para valorizar os recursos locais, prevenir incêndios, inovar tecnologicamente, dinamizar as economias rurais, criar mais empregos, reduzir os custos energéticos e alcançar a neutralidade carbónica. Falta agora envolver de forma mais ativa os restantes agentes desta cadeia de valor.
Diretor Geral da CBN (Centrais de Biomassa do Norte)
sapo