Marcelo: responsabilidade política com os eleitores

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Marcelo Rebelo de Sousa fala aos jornalistas no Alto de São João, em Lisboa, e aponta quatro interrogações com que se deparou após a leitura do relatório sobre a tragédia no Elevador da Glória divulgado no sábado pelo GPIAAF.
“O relatório faz uma descrição com base nos elementos disponíveis neste momento e tem o cuidado de dizer que há muitas duvidas e pistas a desenvolver até ao relatório prometido para daqui a 45 dias.” Entende que seria do agrado de todos abreviar estes prazos (o relatório final será publicado daqui a um ano), mas que tal seria complicado atendendo a que é necessária uma “contribuição nacional e internacional” para elaborar o documento.
Antes de se debruçar sobre as dúvidas que lhe surgiram, elogia o trabalho do único investigador responsável por estes trabalhos e sugere um reforço dos profissionais nesta área.
Olhando para o relatório, aponta quatro observações:
- “Porque não há uma instituição encarregada de fiscalizar este tipo de matérias?”;
- “Porque se soltou o ponto de fixação de uma cabina no cabo?”;
- “Porque redundância não existe ou não funcionou? Acionados os dois sistemas” nenhum funcionou;
- Com “inspeção visual não era possível detetar” cedência no cabo.
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O Presidente da República defende que “quem exerce um cargo político” é sempre “politicamente responsável pelo exercício”, mas “o problema é saber como se efetiva”. No entender de Marcelo Rebelo de Sousa, a decisão, neste contexto, cabe aos eleitores.
“Quando se trata de alguém nomeado, responde perante quem o nomeia. (…) Num cargo eletivo, a resposta é perante os eleitores. Responsabilidade política é perante os eleitores”, diz.
Comentando a divulgação do relatório preliminar, Marcelo entende que as conclusões que nele constam não permitem “determinar responsabilidades de pessoas nem de organizações”. “Não é possível determinar que alguém, pessoa ou instituição, por culpa própria, negligência, ação ou omissão, teve responsabilidade. Neste momento, não é possível e por isso teremos que esperar” pelo relatório final, entende.
Apesar de admitir que ainda é cedo para tirar mais conclusões, Marcelo admite que compreendeu a “posição do Presidente da Carris quando colocou o lugar à disposição”. “O simples facto de uma instituição pública no seu funcionamento determinar consequências desta gravidade, determina uma responsabilidade política subjetiva”.
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Na Póvoa de Varzim, Mariana Leitão, líder da Iniciativa Liberal, disse que o relatório preliminar do GPIAAF sobre o acidente no Elevador da Glória não permite retirar conclusões políticas do caso.
Apesar de ter admitido que ainda não leu o documento na totalidade, assume que os detalhes que já conferiu “não são suficientes para tirar conclusões objetivas”. “O próprio relatório diz exatamente isso. Acho que é prudente aguardarmos pelas conclusões das investigações das perícias para sabermos exatamente o que se passou”, frisa.
Mariana Leitão diz que os relatórios futuros, e as respetivas conclusões, devem servir para prevenir “tragédias futuras”.
“O aproveitamento político que se está a fazer da situação que se está a fazer em cima de uma tragédia desta dimensão — nesta fase, sem ainda sabermos quaisquer conclusões, porque [o aproveitamento] aconteceu ainda antes desse relatório preliminar e mesmo esse relatório preliminar — é algo que não é desejável.”
Mariana Leitão defende “bom senso” de não retirar conclusões precipitadas. Questionada pela RTP se esta posição seria explicada pelo facto de a IL integrar a candidatura liderada por Carlos Moedas à autarquia, a líder partidária responde negativamente. A posição “tem exactamente a ver com o facto de nós não sabermos o que causou o acidente, nós não sabermos que decisões políticas é que podem ter contribuído ou não para este acidente”, pelo que qualquer análise, neste momento, é prematura, entende.
“Nós gostamos de trabalhar em cima de factos, em cima de dados concretos, em cima de informações concretas. Neste momento não as temos e portanto, qualquer ilação, qualquer ideia que se tire ou qualquer posicionamento que se tire, que não seja em cima de factos, é prematuro e contraproducente. E não é essa a forma de estar da iniciativa liberal”.
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Aproveitando a presença na Feira do Livro do Porto, que termina este domingo, José Luís Carneiro coloca-se ao lado de Alexandra Leitão e não alinha com o discurso de Pedro Nuno Santos, que já pediu a demissão de Carlos Moedas, sobre as consequências políticas do acidente no Elevador da Glória.
“Entendo que a Dra. Alexandra Leitão tem estado exemplar na gestão deste processo”, entende o Secretário-Geral do partido, que lembra que a atual candidata do PS à autarquia de Lisboa respeitou o luto e “depois do luto” estará pronta para discutir as responsabilidades políticas, em articulação com os vereadores municipais. “Esse é o local” para “fazer escrutínio do Presidente da Câmara”.
“A candidata mostrou, tem sido reconhecido por muita gente, grande sentido de responsabilidade ao respeitar um momento de recolhimento, de dor e de luto”.
Pedro Nuno deixa um aviso ao PS: “Há, infelizmente, quem se tenha viciado nos elogios da direita”
Questionado diretamente pelo pedido do seu antecessor — que também teve eco em Eurico Brilhante Dias, atual líder parlamentar do PS —, Carneiro lembra o “respeito pelo escrutínio de quem tem uma eleição própria” e, nesse sentido, remeteu para a data das eleições autárquicas: “Há um escrutínio que vai ser feito no 12 de outubro”.
Carneiro frisa que os “partidos com responsabilidade” devem cumprir deveres e respeitar o luto. “Há um tempo para apurar responsabilidades, estão em curso investigações. (…) É necessário aguardar pelas investigações para concluir pela responsabilidade de quem a tem.
Nos últimos dias, Pedro Nuno Santos tem partilhado nas redes sociais notas sobre este caso. Se num primeiro momento pediu a demissão de Carlos Moedas, no sábado voltou à carga para, desta vez, deixar um recado ao PS: “Há, infelizmente, quem se tenha viciado nos elogios da direita”.
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Bom dia!
Abrimos aqui este artigo em direto para acompanhar as novidades sobre o acidente do Elevador da Glória, ascensor que liga os Restauradores ao Bairro Alto, em Lisboa.
Recordamos que no sábado foi divulgado o relatório preliminar do GPIAAF que, não sendo conclusivo, permite entender melhor o que poderá ter acontecido para originar o desastre que matou 16 pessoas.
O que dizem as provas recolhidas sobre as causas do acidente
observador