O desafio de pensar politicamente

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O desafio de pensar politicamente

O desafio de pensar politicamente

Vivemos tempos em que as discussões políticas parecem omnipresentes. Seja nas redes sociais, nos cafés ou nas salas de estar, as conversas rapidamente enveredam pela política, muitas vezes dividindo amigos, famílias e colegas. No entanto, se há algo que devemos recordar é que a política é, na sua essência, um conjunto de ideias e decisões humanas, e não uma característica inata da nossa natureza, na medida em que nascemos sem qualquer inclinação política e a nossa identidade não deveria ser limitada por ideologias ou partidos. De facto, ao longo da vida, somos influenciados pelas circunstâncias que nos rodeiam: a cultura familiar, o ambiente social, as experiências profissionais, fatores que contribuem para a nossa visão do mundo e, naturalmente, para as nossas opiniões políticas. Porém, não estamos predestinados a alinhar-nos com determinada corrente ideológica, especialmente se considerarmos que os ideais políticos que adotamos devem ser fruto de escolhas conscientes, de reflexão e de um desejo genuíno de contribuir para o bem comum. Não faz parte do nosso ser intrínseco, mas resulta de um processo contínuo de aprendizagem e vivência.

Este ponto é fundamental porque, atualmente, há uma tendência preocupante para a polarização e rotulagem, onde as convicções políticas são tratadas como traços fixos e imutáveis. Quando alguém exprime uma opinião política ou revela a sua filiação partidária, essa pessoa é, muitas vezes, catalogada de imediato como se toda a sua identidade pudesse ser reduzida a uma simples etiqueta ideológica. Contudo, esta abordagem é redutora e perigosa, dado que, ao tratarmos as pessoas como meros representantes de uma corrente política, perdemos a capacidade de ver a sua complexidade e a sua humanidade. Ainda mais preocupante é o facto de este fenómeno alimentar uma mentalidade bélica, na qual a política se transforma numa luta incessante entre diálogos opostos em vez de ser o espaço de diálogo e construção conjunta por excelência. Quando acreditamos que a nossa perspetiva é a única válida e que o outro está aprisionado numa posição da qual não pode sair, criamos divisões desnecessárias e destruímos a possibilidade de consenso. E isto é, provavelmente, o maior obstáculo que enfrentamos enquanto sociedade: a incapacidade de aceitar que as opiniões políticas podem e devem ser flexíveis e sujeitas a revisão.

Efetivamente, a flexibilidade nas opiniões não é um sinal de fraqueza, mas de inteligência e maturidade, na medida em que o mundo está em constante mudança e as soluções do passado podem não servir para os desafios de hoje. Infelizmente, a rigidez ideológica transforma a política numa espécie de religião secular, conduzindo muitas vezes ao fanatismo e convertendo a política numa questão de lealdade cega que torna quase impossível alterar as ideias ou aceitar o outro sem sentir que se está a trair algo de fundamental. Se nos lembrarmos de que, por natureza, não nascemos inclinados para nenhuma ideologia, podemos começar a encarar a política com menos paixão e mais racionalidade; podemos, finalmente, ver a política como aquilo que realmente deveria ser: um meio de gerir a vida coletiva de forma justa e eficiente e não um campo de batalha para a supremacia de uma ideia ou partido.

Portanto, em vez de nos rendermos à polarização e aos rótulos, talvez devêssemos cultivar a flexibilidade nas nossas opiniões políticas e a tolerância para com a diversidade de ideias. Isto não significa abdicar das nossas convicções, mas sim estar dispostos a analisá-las de forma crítica e ouvir os outros com verdadeira abertura democrática. Que não haja dúvidas da importância da política, mas não deve ser uma prisão da qual não podemos escapar: se nos lembrarmos disto, estaremos a abrir um caminho para uma sociedade mais justa e, acima de tudo, mais capaz de enfrentar os desafios que, enquanto sociedade, teremos pela frente.

observador

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