França. 200 detidos em dia de protestos contra Governo

O movimento ativista “Vamos Bloquear Tudo” convocou para esta quarta-feira vários protestos em todo o país com o objetivo de contestar os cortes orçamentais. Prometendo paralisar os serviços e transportes, as manifestações coincidem com a crise política que se vive em França, depois do Governo de François Bayrou ter caído na sequência do chumbo da moção de confiança e da nomeação de Sébastien Lecornu como primeiro-ministro.
Emmanuel Macron nomeia Sébastien Lecornu como novo primeiro-ministro
De acordo com o Le Monde, o Governo destacou 80 mil agentes em todo o país (seis mil só em Paris) para assegurar que os protestos decorrem em conformidade. No entanto, logo nas primeiras horas da manhã, registaram-se confrontos na capital parisiense entre manifestantes e polícia, com caixotes do lixo incendiados em várias ruas. Por volta das 9h30 (8h30 em Lisboa), o Ministério do Interior já tinha registado cerca de 200 detenções.
No início da manhã desta quarta-feira, cerca de uma centena de jovens bloqueou um estrada no 18.º arrondissement de Paris e obrigou a polícia a intervir com gás lacrimogéneo. Na Porte de Bagnolet, por volta das 6h30 (5h30, em Lisboa), várias pessoas foram detidas após tentarem interromper a circulação, enquanto às 7h30 (6h30, em Lisboa) estava em curso um bloqueio na Porte de Montreuil — que foi acompanhado por uma intervenção de cerca de 30 motas de repressão da ação violenta motorizada.
Em Toulouse, já foram registados vários protestos junto a escolas e universidades. Cerca de 400 pessoas juntaram-se em frente à Câmara Municipal. Até às 10h00 (9h00 em Lisboa), foram detidas 26 pessoas e estão previstos mais protestos no bairro Jean-Jaurès.
Em Marselha, a manifestação, em direção à estação Saint-Charles, recuou perante vários cordões de polícias. Foram lançadas algumas granadas de gás lacrimogéneo e as autoridades também retiraram caixotes do lixo que tinham sido colocados nos carris do elétrico pelos manifestantes.
O movimento Bloquons Tout, sem liderança formal e mobilizado através das redes sociais, ganhou força durante o verão e apresenta reivindicações diversificadas. Entre os alvos estão os planos de austeridade defendidos por Bayrou antes da sua queda, mas também críticas às desigualdades sociais e à liderança do Presidente Emmanuel Macron.
De acordo com o Ministério do Interior, citado pelo Le Monde, a adesão aos protestos deverá ser “moderada”, com uma estimativa de até 100 mil pessoas nas ruas. As ações incluem, para além da paralisação dos transportes públicos, a abertura das portagens, o bloqueio de estradas, refinarias e depósitos de petróleo.
No setor dos transportes, o impacto pode variar consoante as regiões de França. Em Paris, o tráfego de metro, RER e autocarros é descrito como “quase normal”, exceto um incidente técnico na linha 5 e perturbações na linha B do RER, onde circulam apenas dois terços dos comboios previstos.
Nos aeroportos de Paris-Orly, Roissy e Le Bourget, a ADP (empresa responsável pelas operações aeroportuárias) reportou “nada a assinalar”, embora admita que poderá, ao longo do dia, existir perturbações nos acessos rodoviários e ferroviários. Já a Direção-Geral da Aviação Civil prevê atrasos e perturbações em todos os aeroportos franceses ao longo do dia.
O secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez, alertou em declarações à BFMTV para a possibilidade de “ações bastante duras”, incluindo bloqueios no anel viário da capital e acessos a aeroportos, bem como “atos de sabotagem” nos transportes públicos. Segundo Nuñez, as forças de segurança estão preparadas para responder também durante a noite.
Por seu turno, a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, acusou o Governo de tentar descredibilizar a mobilização. Em entrevista à France 3, afirmou que o executivo procurará “espalhar o medo” e retratar os manifestantes como violentos, numa estratégia que, segundo a dirigente sindical, visa tornar o movimento “impopular”.
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