Empresas exportadoras estão a absorver o custo das tarifas

As empresas portuguesas que têm nos EUA um dos principais destinos para as suas exportações parecem estar a absorver, nas suas margens de lucro, o impacto das alterações tarifárias promovidas pela administração Trump. A conclusão, ainda preliminar, é do Banco de Portugal que, no boletim económico trimestral divulgado nesta terça-feira, considera que, embora as empresas em questão tenham uma dimensão média elevada (em termos de número de trabalhadores), elas têm um “peso pequeno” no total das empresas portuguesas.
No boletim económico de outubro, o Banco de Portugal começa por salientar que “a política económica da nova administração norte americana desencadeou um aumento acentuado da incerteza, a depreciação do dólar e a subida dos direitos aduaneiros cobrados pelos EUA às exportações dos seus parceiros comerciais”. Nesta fase, “o enquadramento internacional continua marcado por tensões comerciais, pela incerteza e pela apreciação do euro, mas os efeitos na procura externa são, para já, limitados“, considera o Banco de Portugal.
Numa tentativa de medir os impactos já discerníveis e formar uma análise (que o próprio Banco de Portugal reconhece ser apenas “preliminar”), procuraram-se alterações no padrão das exportações (de bens) para os EUA, comparando o seu comportamento antes e depois da eleição de Donald Trump. E concluiu-se que terá havido “um impacto negativo e estatisticamente significativo nas taxas de variação do valor exportado [preço multiplicado pela quantidade] e do preço de exportação para os EUA”.
Em concreto, verificou-se uma “diminuição de sete pontos percentuais no crescimento do valor exportado e de dois pontos percentuais no crescimento do preço de exportação para os EUA em comparação com outros destinos”. O que é que estes dados indicam? “O impacto mais pronunciado no valor do que no preço de exportação sugere uma contração relativa dos volumes exportados“, explica o Banco de Portugal.
Embora o preço de exportação em euros para os EUA tenha registado um crescimento inferior após a eleição, o preço em dólares enfrentado pelos importadores americanos resulta da conversão cambial para dólares, assim como da inclusão dos direitos aduaneiros, entre outros elementos. O aumento desses direitos e a depreciação do dólar (de 8% entre novembro de 2024 e junho de 2025) terão contribuído para aumentar o preço em dólares para os importadores americanos e, por essa via, para a redução do crescimento dos volumes exportados para os EUA”, refere o supervisor.
A conclusão do Banco de Portugal, a partir dos dados comparados com outros mercados de exportação, é que “as empresas exportadoras portuguesas reduziram as suas margens no mercado dos EUA relativamente a outros mercados”. O supervisor analisou as empresas que exportam pelo menos 10% das suas vendas totais para os EUA e comparou-as com as que exportam para os EUA menos do que 10% da sua faturação (ou não exportam, de todo, para esse país).
“O ajustamento das margens poderá refletir a avaliação das empresas sobre o seu posicionamento face a outros concorrentes em termos de competitividade-preço, mas também, em parte, a rigidez dos preços de exportação na moeda de faturação“, acrescenta o departamento de estudos económicos do Banco de Portugal, notando que, “em Portugal, cerca de 40% das exportações de bens para os EUA são faturadas em dólares”.
Ainda assim, o Banco de Portugal salienta que está a trabalhar com dados ainda muito escassos, pelo que ainda pode ser cedo para tirar conclusões definitivas sobre um ajustamento comercial que está a acontecer a nível global – e cujo impacto, a propósito, só irá sentir-se na totalidade no próximo ano, afirmou a Organização Mundial do Comércio também nesta terça-feira.
Na última primavera, no auge dos receios em torno das tarifas de Trump, o supervisor português antecipou que se a administração Trump viesse a lançar tarifas de 25% contra a UE – e se isso, depois, provocasse uma retaliação – a economia portuguesa poderia crescer menos 0,9 pontos percentuais do que as projeções que existiam. Mas, entretanto, a União Europeia e a Casa Branca chegaram a um acordo, em agosto, que limitou os custos tarifários a um valor mais baixo e, sobretudo, parece ter eliminado a forte incerteza que existia na primavera.
Ainda assim, o Banco de Portugal está relativamente pessimista em relação às exportações portuguesas, globalmente falando. “O crescimento médio das exportações deverá reduzir-se para 2,0% em 2025–27, que compara com 4,6% na última década”, adiantou o supervisor nesta terça-feira.
O desempenho favorável das exportações no passado reflete ganhos de quota de mercado. Porém, as indicações preliminares para o primeiro semestre de 2025 são negativas, num quadro de turbulência das trocas comerciais globais. Neste contexto, é feita uma avaliação conservadora da evolução da quota de mercado das exportações, assumindo-se a ausência de ganhos, em média, no horizonte de projeção. Esta avaliação também é extensível ao turismo. Após o dinamismo elevado do período pós-pandemia, espera-se uma normalização do crescimento para uma taxa média de 2,5% em 2025–27″, indica o Banco de Portugal.
De uma perspetiva geral, o supervisor antecipa que “o comércio mundial [irá] abranda[r] em 2025–26 sob o impacto do aumento das tarifas, mas os efeitos sobre a procura externa dirigida à economia portuguesa são mais contidos“.
“O crescimento do comércio mundial deverá reduzir-se de 3,1% em 2024 para 2,8% em 2025 e 1,6% em 2026, recuperando para 3,0% em 2027”, afirma o Banco de Portugal, notando que “estes valores representam uma revisão em baixa, face às projeções de junho, de 0,2 pontos percentuais em 2026 e de 0,1 pontos percentuais em 2027″. “A procura externa dirigida a Portugal, cujas exportações se destinam maioritariamente à UE, apresenta menor vulnerabilidade a estes choques“, remata o supervisor.
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