Saúde: desafios e respostas

Saúde foi a palavra de ordem em mais uma iniciativa promovida pelo Fórum Saúde XXI e que reuniu vários especialistas da área, de governantes e ex-governantes, médicos, académicos, gestores hospitalares, entre outros, no Centro Ismaili de Lisboa. O mote foi a apresentação do Working Policy Paper sobre o ecossistema da saúde, criação de valor e impacto na economia.
Para Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde e chairman do Fórum, não há dúvidas: «Estamos aqui para construir, para apoiar independentemente dos governos que em cada momento o povo escolhe. Estamos aqui para dar o nosso contributo».
Na apresentação do estudo, Pedro Serra Pinto, do Fórum Saúde XXI, relembrou ser preciso mudar e que «o objetivo principal dos cuidados de saúde é claro e tão simples como servir o doente, proteger a saúde e combater a doença».
Este estudo considera que «a integração de tecnologias emergentes na saúde oferece oportunidades significativas para melhorar a eficiência, personalização e equidade dos cuidados». No entanto, «é essencial abordar os desafios associados, como a capacitação de profissionais e utentes, a segurança dos dados e a necessidade de políticas públicas que promovam a inclusão digital». E adianta também que «a liderança governamental e a cooperação entre setores serão cruciais para garantir que a transformação digital da saúde beneficie toda a sociedade».
Entre outras análises, conclui-se que «o impacto do setor saúde em Portugal no crescimento económico, na empregabilidade qualificada e no bem-estar populacional confere-lhe uma centralidade estratégica no planeamento de políticas públicas orientadas para a sustentabilidade e a competitividade» e que «a transformação digital em curso oferece a Portugal uma oportunidade ímpar para se posicionar como líder europeu na convergência entre saúde, tecnologia e economia verde». E defende também que «a resposta aos desafios demográficos, nomeadamente o envelhecimento populacional, e às novas exigências em saúde requer modelos de prestação centrados na pessoa, assentes em prevenção, literacia em saúde e gestão integrada dos cuidados». Destaque ainda para a necessidade de adotar uma estratégia nacional de saúde baseada em valor, criar um plano de ação para a transformação digital da saúde, estabelecer uma estratégia de captação e retenção de talento, entre outros.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, defendeu no encontro que é preciso união para um modelo de SNS diferente. E avisou: «Temos um programa de Governo que temos que ver como é que se consegue utilizar. O Governo não tem maioria na Assembleia da República e terá, naturalmente, que fazer acordos com aqueles que estiverem disponíveis para fazer acordos». Ana Paula Martins insistiu na necessidade de alterar a Lei de Bases da Saúde. «Com a Lei de Bases que temos hoje não podemos evoluir, pelo menos, para um sistema suficientemente diferente», lembrando que «as coisas mudaram muito e hoje temos mais um milhão de pessoas em Portugal e mais 700 mil inscritas no registo nacional do Governo. E não estamos a falar de pessoas sem documentos».
De facto, acrescentou, «para mudarmos o modelo que temos hoje e para pensarmos um bocadinho mais fora da caixa, olhámos para os modelos que são inspiradores», dando como exemplo a Dinamarca e a Holanda. «Não somos nem de perto nem de longe o sistema menos eficiente, mas temos ainda eficiência para ganhar e diria que a Lei de Bases da Saúde é muito importante que consiga ter uma revisão. Vamos partir para a revisão do projeto que foi feito no tempo do ministro Adalberto Campos Fernandes. Naturalmente agora as coisas também foram evoluindo e o próprio Governo incluirá algumas matérias nunca ferindo os princípios que são constitucionais», justificou, destacando o artigo 21 «que precisa de ser discutido. E são questões muito duras de fazer e alguns dilemas vão estar em cima da mesa, não vale a pena dizermos que não».
A sessão contou ainda com Karim Merali, diretor executivo da Fundação Aga Khan em Portugal, que falou sobre a atuação da fundação em Portugal, e Pedro Gouveia, da Fundação Champalimaud, que falou sobre inovação clínica e criação de valor em saúde.
Várias caras conhecidas, como o cirurgião José Fragata, o médico Ricardo Mexia, Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, ou Maria de Belém, ex-ministra da Saúde, estiveram presentes e enriqueceram o debate.
Já Andrea Lima, presidente do Fórum Saúde XXI prometeu: «Temos muitas ideias para implementar o que está aí, no sentido de desenvolvermos essas ideias e realizarmos mais eventos e falarmos sobre todas essas soluções e diretrizes».
Jornal Sol