As raízes do vício humano em álcool foram encontradas na vida cotidiana dos primatas.

A descoberta mostrou que primatas selvagens consomem doses significativas de etanol de frutas fermentadas.
Chimpanzés selvagens nas florestas de Uganda e da Costa do Marfim consomem álcool regularmente, uma quantidade diária de etanol equivalente a dois drinques e meio por dia para humanos. Esta descoberta, feita por uma equipe internacional de cientistas, corrobora a chamada hipótese do macaco bêbado, que sugere que o desejo humano por álcool tem raízes evolutivas profundas.

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A dieta diária de chimpanzés selvagens esconde um elemento inesperado: o consumo regular de álcool. Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que os primatas consomem frutas fermentadas contendo etanol em quantidades equivalentes a várias doses diárias para humanos. Os cientistas analisaram o teor alcoólico de 21 tipos de frutas que constituem a dieta básica dos chimpanzés no Parque Nacional de Kibale, em Uganda, e no Parque Nacional de Tai, na Costa do Marfim. Embora a concentração de etanol em cada fruta individual fosse baixa, com média de apenas 0,3%, os volumes colossais de consumo de frutas — 5 a 10% do peso corporal de um animal diariamente — resultam em uma dose cumulativa significativa.
Cálculos mostraram que, em média, cada chimpanzé consome aproximadamente 14 gramas de álcool puro por dia. Para efeito de comparação, uma bebida alcoólica humana padrão contém aproximadamente 10 gramas. Se recalcularmos essa dose para levar em conta a menor massa corporal do chimpanzé, ela equivale a duas taças e meia de vinho ou cerveja por dia. Essa descoberta tornou-se um argumento poderoso em apoio à "hipótese do macaco bêbado", proposta há duas décadas pelo biólogo Robert Dudley. A hipótese sugere que a predileção dos humanos pelo álcool não é uma coincidência, mas uma característica evolutivamente determinada, herdada de ancestrais primatas distantes que consumiram frutas fermentadas por milhões de anos.
"Graças a este trabalho, entendemos que nossa relação com o álcool remonta a tempos remotos na história evolutiva, provavelmente em torno de 30 milhões de anos", comenta a primatologista Elizabeth Dawson sobre a descoberta. Os cientistas especulam que, para os chimpanzés, essas "libações" também podem ter servido a uma função social. Ao reduzir a tensão, o álcool pode ter ajudado a fortalecer os laços dentro do grupo. O autor do estudo, Alexey Maro, observa que, às vezes, após se saciarem com frutas fermentadas, os chimpanzés embarcam em patrulhas ou caçadas conjuntas, que consideram empreendimentos arriscados, nos quais uma coragem extra poderia ser benéfica.
No entanto, alguns especialistas apontam as limitações do estudo. O biólogo Matthew Carrigan observa que os autores do estudo não mediram a quantidade exata de frutas consumidas, mas apenas o tempo que os animais levaram para consumi-las. Além disso, é importante entender que os chimpanzés não bebem até a inconsciência — isso seria fatal na natureza. O consumo de álcool é distribuído ao longo do dia, juntamente com as refeições, evitando um aumento acentuado nos níveis de etanol no sangue. Observa-se que isso representa um consumo de base constante, não uma compulsão alimentar. No entanto, de acordo com o especialista Nathaniel Dominy, os dados coletados são convincentes e incluem uma ampla gama de frutas consumidas por primatas na África.
mk.ru