A longa história do Canadá não atingir as suas metas de gastos militares

Em um mundo cada vez mais inseguro, o governo federal do Canadá anunciou que gastará 2% do seu PIB em gastos militares. Esse é o padrão que todos os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte concordaram em 2006, mas o Canadá tem sido um retardatário há muito tempo, a ponto de outros governos, particularmente os Estados Unidos, terem intimidado o país por seus escassos gastos militares.

Atualmente, o Canadá gasta 1,37% do PIB com as forças armadas.

Em 2024, a OTAN divulgou um relatório detalhando quais países atingiram a meta de 2%. Vinte e três membros do grupo de defesa atingiram ou ultrapassaram essa meta. Isso inclui Montenegro, um país dos Balcãs com população menor que a de Mississauga, e os dois membros mais recentes da OTAN, Suécia e Finlândia.

Oito países, incluindo o Canadá, não o fizeram. O Canadá gasta menos que a Itália em defesa, mas mais que a Bélgica. A Espanha, país da OTAN com menor gasto, destina 1,28% do seu PIB a gastos militares. Em julho de 2023, o conselho editorial do Wall Street Journal classificou os gastos militares do Canadá como "patéticos ".

A OTAN está atualmente considerando aumentar seu limite de dois por cento para cinco por cento, algo que os líderes mundiais devem discutir na cúpula anual em Haia, dentro de duas semanas.

Peter MacKay, que foi ministro da defesa no antigo governo conservador, disse ao National Post em 2023 que lamenta que os conservadores não tenham atingido o alvo enquanto estavam no poder.

Em 2014, ele disse, havia um “grande grau de fadiga em torno dos gastos com defesa”, devido aos anos que o Canadá passou lutando no Afeganistão.

“Nós, o governo (Stephen) Harper, estávamos investindo muito dinheiro nesse esforço para atingir os 2%. E o departamento literalmente não conseguia gastar rápido o suficiente”, disse ele. “Eles pegavam o dinheiro e nós literalmente nos enrolávamos nesses grandes projetos (de aquisição). E, no final do ano, tínhamos que devolver o dinheiro ao Tesouro.”

O primeiro-ministro Mark Carney anunciou na segunda-feira que o Canadá gastará US$ 9,3 bilhões adicionais em defesa durante o ano fiscal de 2025-2026, totalizando mais de US$ 62 bilhões, ou cerca de dois por cento do PIB.

Mas esta não é a primeira vez que um primeiro-ministro canadense promete que o país atingirá a meta. Aqui está uma lista não exaustiva de quando o Canadá prometeu atingir a meta da OTAN e onde estavam seus gastos com defesa ao longo dos anos.

Década de 1970: Nessa época, o Canadá gastava 2,8% do seu PIB com o orçamento de defesa . Embora a década de 1970 tenha sido tecnicamente um período de distensão na Guerra Fria, houve uma série de momentos de tensão na década de 1960, e a década de 1970 foi um período profundamente instável. Em meados da década de 1970, os gastos militares do Canadá começaram a declinar, atingindo uma média de cerca de 1,9% do PIB, antes de crescer ligeiramente na década de 1980 para 2,1%.

Abril de 1989: No orçamento de 1989, o Canadá planejava cortar US$ 2,7 bilhões de seu orçamento de defesa e fechar 14 de suas bases da Guerra Fria. Um programa militar inteiro, de quase US$ 700 milhões para um quebra-gelo, foi descartado.

Novembro de 2006: Os países-membros da OTAN se comprometem a destinar 2% do PIB às forças armadas. Na época, os gastos com defesa do Canadá giravam em torno de 1,2% do PIB.

Janeiro de 2007: Durante a guerra no Afeganistão, o governo de Stephen Harper gastava pouco mais de 1% do PIB. Em janeiro de 2007, o Departamento de Defesa apresentou ao gabinete de Harper três opções de gastos para aumentar o orçamento de defesa. A opção intermediária era gastar US$ 35 bilhões até 2025. Em 2025, os gastos com defesa estavam um pouco acima de US$ 30 bilhões .

Setembro de 2014: Na cúpula da OTAN no País de Gales, os aliados reafirmaram seu compromisso de investir 2% do PIB em gastos militares. No entanto, poucos dias antes da reunião, dados divulgados pelo Departamento de Defesa Nacional mostraram que o governo federal pretendia reduzir os gastos com defesa em US$ 2,7 bilhões. (O governo estava pressionando para equilibrar o orçamento antes das eleições de 2015. O líder liberal Justin Trudeau conquistou um governo majoritário naquela eleição.)

Junho de 2017: O então ministro da Defesa, Harjit Sajjan, anunciou um aumento de US$ 13,9 bilhões nos gastos militares na próxima década e um plano que colocaria mais 5.000 soldados uniformizados, mas ainda deixaria o Canadá aquém da meta de 2%. Na época, os gastos com defesa estavam em torno de 1,19% do PIB.

Outubro de 2020: Os gastos com defesa do Canadá saltaram para 1,45% do PIB. No entanto, isso não se deveu a novos aumentos de gastos, mas sim à contração da economia durante a pandemia de COVID-19.

Maio de 2022: A então ministra da Defesa, Anita Anand, afirmou que o Canadá está em uma " trajetória ascendente " no que diz respeito ao cumprimento das metas da OTAN. No entanto, em um debate virtual promovido pela Câmara de Comércio do Canadá, ela não chegou a se comprometer com um cronograma.

Junho de 2022: O Escritório de Orçamento Parlamentar disse que, se o Canadá quisesse atingir a meta de dois por cento até 2027, o país precisaria gastar mais de US$ 75 bilhões ao longo de cinco anos .

Abril de 2023: Uma avaliação vazada do Pentágono obtida pelo Washington Post revelou que Trudeau havia dito privadamente a autoridades da OTAN que o Canadá nunca atingiria a meta de gastos com defesa da aliança de dois por cento do PIB.

Julho de 2023: A OTAN divulgou um comunicado afirmando que todos os membros concordaram em gastar pelo menos 2%. O Canadá concordou com a meta, mas na época não tinha planos para alcançá-la.

Nos últimos anos, autoridades têm defendido o fracasso do governo em atingir a meta de dois por cento, dizendo que o Canadá aumentou seus gastos militares em 70 por cento desde 2014. Os liberais anunciaram US$ 2,6 bilhões ao longo de três anos para a missão do Canadá na Letônia, US$ 40 bilhões para a modernização do NORAD e bilhões em gastos nos novos caças F-35 (um contrato que agora está sendo revisado).

Abril de 2024: O governo canadense revelou sua política militar atualizada — Nosso Norte, Forte e Livre — que incluiu US$ 8,1 bilhões em gastos adicionais. No entanto, não se tratava de um compromisso de atingir 2%. A meta seria levar o Canadá a 1,76% até 2029-30.

Junho de 2024: O então primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou no final da cúpula da OTAN de 2024 que o Canadá atingiria dois por cento do PIB em gastos militares até 2032.

“Continuamos nos esforçando e superando nossas expectativas, algo que nem sempre se reflete nos cálculos matemáticos grosseiros aos quais certas pessoas recorrem rapidamente”, disse Trudeau na época. “É por isso que sempre questionamos os dois por cento como o ponto principal e final da avaliação das contribuições para a OTAN.”

Em julho, Blair disse: “Era importante ser realista sobre quanto tempo levaria para fazer esses investimentos, para fazê-lo da maneira certa”.

Novembro de 2024: Pesquisa exclusiva da Postmedia-Leger mostrou que 45% dos canadenses não acreditam que o Canadá cumprirá seus compromissos com gastos militares. Para atingir esse objetivo, o Canadá precisaria quase dobrar os gastos com defesa. Apenas um quinto dos canadenses disseram aos pesquisadores que acreditam que isso é possível.

Janeiro de 2025: O então ministro da Defesa Nacional, Bill Blair, afirmou que o Canadá poderia acelerar o cronograma para atingir a meta de 2%. Em vez de 2032, Blair afirmou que o Canadá poderia atingir essa meta até 2027, simplesmente acelerando o cronograma estabelecido em junho de 2024.

Abril de 2025: Durante as eleições federais, tanto os Liberais quanto os Conservadores prometeram cumprir as metas de gastos da OTAN. Os Liberais disseram que o fariam aumentando os gastos em US$ 18 bilhões ao longo de quatro anos, enquanto os Conservadores se comprometeram a gastar US$ 17 bilhões ao longo de quatro anos. Em março, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos não defenderiam aliados da OTAN que não tivessem cumprido suas metas de gastos.

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