A regra fiscal enfrenta seu grande teste no governo Petro.

Regra fiscal e economia.
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A semana começa com analistas, investidores e autoridades econômicas com as atenções voltadas para o Conselho Superior de Política Fiscal (Confis), que realizará uma de suas sessões mais decisivas dos últimos anos, diante do tema a ser discutido e das notícias que alguns já dão como certas, enquanto o futuro da regra fiscal permanece incerto.
Em meio a um ambiente econômico marcado pela restrição de caixa do governo nacional e pela crescente pressão sobre as finanças públicas, o órgão deve decidir se autoriza o Executivo a acionar a chamada "cláusula de escape" da regra fiscal, mecanismo extraordinário que permitiria flexibilizar os limites de déficit estabelecidos em lei e dar livre curso à capacidade de endividamento.
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Vale ressaltar que a decisão não só tem um peso técnico considerável, como também representa um momento de ruptura institucional que pode redefinir a percepção do país sobre responsabilidade fiscal. Até poucos dias atrás, segundo fontes do governo, presumia-se que todos os membros do Confis apoiariam a ativação da cláusula, e que o presidente Gustavo Petro a havia endossado.
No entanto, o burburinho que essa possibilidade gerou nos mercados e entre analistas levantou dúvidas de última hora e pôs em dúvida a esperada votação unânime, enquanto o Ministro da Fazenda insiste na necessidade de o país adotar um pacto fiscal focado no desenvolvimento de finanças sustentáveis.

O Ministério das Finanças está buscando maneiras de diversificar as fontes de receita do país.
Cortesia do Ministério das Finanças
A regra fiscal, formalizada na Lei 1.473 de 2011 e ajustada na Lei 2.155 de 2021 , estabelece limites máximos para o déficit estrutural do governo central e visa evitar que o país incorra em níveis insustentáveis de dívida, ao mesmo tempo em que proporciona confiança aos mercados e investidores e serve de referência para agências de classificação de risco e custo da dívida na Colômbia.
Assim, a "cláusula de escape", prevista no parágrafo 2º do artigo 60 da Lei 2.155, permite a suspensão temporária da regra apenas em caso de eventos extraordinários que comprometam a estabilidade macroeconômica do país. Com base nisso, o governo argumenta que enfrenta uma situação fiscal complexa, mas especialistas insistem que não existem condições extraordinárias para a aplicação dessa cláusula neste momento.
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Embora o Ministério da Fazenda enfatize que isso não é um ato de irresponsabilidade, os mercados já reagiram com preocupação. Somente nesta sexta-feira, 6 de junho, após tomarem conhecimento da intenção de ativar a cláusula de escape, os títulos da dívida pública colombiana sofreram uma forte queda, tornando o país o emissor soberano com pior desempenho nos mercados internacionais naquele dia, segundo o economista Jorge Restrepo. Esse comportamento reflete uma perda de confiança dos investidores, não apenas devido à possível mudança na regra, mas também devido à falta de clareza quanto ao plano fiscal de médio prazo. Analistas como José Ignacio López, presidente da Anif, apontam que a mera menção à cláusula já encareceu o financiamento estatal e que suspender a regra sem eventos extraordinários comprometeria a credibilidade fiscal da Colômbia.
Entre os efeitos mais significativos, analistas concordam que tal decisão poderia colocar em risco a Linha de Crédito Flexível do país junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), além de afetar sua classificação de crédito soberano e impactar o fluxo de investimento estrangeiro direto, principalmente em um contexto em que outros países da região estão fortalecendo sua disciplina fiscal para preservar o acesso ao mercado.

Riscos Fiscais - Economia
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Na semana passada, durante a convenção da Asobancaria, o ministro da Fazenda, Germán Ávila Silva, defendeu a necessidade de um ajuste fiscal estrutural, mas ressaltou que ele deve ser feito de forma gradual e responsável, sem paralisar a economia nem sacrificar o investimento social.
Ávila explicou que o déficit atual não é resultado de gastos excessivos, mas sim de obrigações herdadas, como a dívida com o Fundo de Estabilização dos Preços dos Combustíveis (FEPC), o pagamento de empréstimos adquiridos durante a pandemia e os subsídios à energia. Juntos, esses compromissos ultrapassam US$ 120 bilhões.
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O ministro também criticou o que chamou de "visão dogmática" da regra fiscal. "Acompanhamento como se fosse religião paralisaria o Estado", disse, ao mesmo tempo em que pediu um debate sobre a possibilidade de um pacto fiscal nacional que permita redesenhar a sustentabilidade das finanças públicas sem desacelerar o crescimento econômico.
Em resposta, o diretor da Fedesarrollo, Luis Fernando Mejía, foi categórico ao afirmar que "a economia está crescendo mais rápido, o desemprego está menor e a inflação está caindo. Não há nenhum evento extraordinário que justifique a ativação da cláusula de escape", e observou que isso enviaria um sinal negativo aos mercados e agravaria as percepções de risco.

Riscos e regra fiscal.
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O Observatório Fiscal da Universidade Javeriana oferece uma visão diferente e, embora reconheça que a regra tem sido um pilar da sustentabilidade, considera que as contas fiscais já estavam sendo manipuladas, portanto, "a cláusula de escape é o único caminho que resta, mas deve ser acompanhada por um plano de consolidação fiscal credível". Alerta que o déficit será maior do que o projetado e que o Quadro Fiscal de Médio Prazo (CFMP) será fundamental para recuperar a credibilidade.
Por sua vez, a Controladoria-Geral da União foi mais longe e questionou diretamente a legalidade do uso dessa ferramenta na situação atual, afirmando que "não se verificam fatos que coloquem em risco a estabilidade macroeconômica", segundo o Controlador Carlos Hernán Rodríguez, que argumentou que acioná-la sem justificativa prejudicaria a eficácia da norma e a confiança dos investidores.
Outros especialistas, como o ex-ministro Mauricio Cárdenas, elevaram o tom político e acusaram o governo de tentar usar os gastos públicos para influenciar as eleições, descrevendo a decisão como uma forma de "perder a vergonha fiscal".
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Dia DCaso o Confis aprove a ativação da cláusula de escape, o governo terá liberdade para reformular seu plano fiscal sem se prender aos limites tradicionais do déficit estrutural. No entanto, isso não o isenta de apresentar um Quadro Fiscal de Médio Prazo sério e verificável, detalhando a trajetória de ajuste e o retorno ao cumprimento da regra. Nesse cenário, analistas e entidades como o FMI monitorarão de perto a qualidade das novas projeções, a redução de gastos não essenciais e a possibilidade de uma nova reforma tributária no segundo semestre.
Se, por outro lado, o Confis não aprovar a ativação da cláusula, o governo seria forçado a buscar ajustes imediatos nos gastos ou recorrer a mecanismos extraordinários de financiamento, com impactos mais severos na economia. De qualquer forma, esta segunda-feira marcaria um ponto de ruptura para a credibilidade do país.
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