Sou o senador sombra de Washington. O que Trump está fazendo deveria aterrorizar a todos nós.
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Quando o presidente Donald Trump anunciou na segunda-feira que assumiria o Departamento de Polícia Metropolitana de Washington e enviaria tropas da Guarda Nacional, nós que moramos em DC imediatamente entendemos o quão assustadoras as coisas estavam prestes a ficar.
Por lei — já que DC não é um estado — o presidente pode assumir o MPD por 30 dias; não sabemos quanto tempo durará essa mobilização da Guarda Nacional. Isso significa que os 700.000 moradores de DC viverão no próximo mês sob o comando de uma força policial que foi abertamente incentivada pelo presidente a cometer atos de brutalidade contra civis e que é simplesmente muito pior administrada. Também teremos que lidar com uma "presença reforçada" de agências de segurança federais em toda a cidade. Ainda não sabemos exatamente como será a tomada do MPD por Trump, mas é perfeitamente possível que pessoas morram em consequência dessas ações.
Muitos provavelmente estão se perguntando como o presidente Trump pode assumir o controle da força policial de Washington, D.C. Uma maneira resumida de descrever uma longa história de opressão é esta: Washington, D.C. não tem representação eleitoral no Congresso, apesar de nossa população ser maior do que a de Vermont ou Wyoming, e de os moradores de Washington, D.C. pagarem mais impostos federais per capita do que qualquer estado . O Congresso pode anular ou alterar nossas leis locais antes que entrem em vigor e pode abolir nosso governo local a qualquer momento que desejar. Até que Washington, D.C. se torne um estado, o governo federal continuará a ter a palavra final sobre os assuntos locais de Washington, D.C.
O Distrito tem um governo local eleito com poder limitado para governar a cidade, e autoridades eleitas localmente que lutam por nossa soberania. Por exemplo, os eleitores em Washington, D.C. elegem um representante dos EUA sem direito a voto e dois senadores sem direito a voto. Esses senadores "sombra" e o representante trabalham para alcançar a condição de estado de Washington, D.C., impedir a interferência do Congresso nos assuntos do estado e defender perante o Congresso leis que protejam os interesses do estado. Sou o mais novo senador de Washington, D.C., eleito em novembro do ano passado.
Por que DC precisa — e merece — representação eleitoral no Congresso?
Porque é o Congresso — e não o presidente — que exerce o maior poder sobre Washington, D.C. O presidente e seus indicados reconheceram isso em sua coletiva de imprensa, pedindo ao Congresso que tome diversas medidas para impor a vontade dos republicanos aos cidadãos de Washington — como revogar a política de não pagar fiança em dinheiro em Washington, D.C. (já existe a presunção em Washington de que pessoas acusadas de crimes violentos permanecem presas aguardando julgamento) e garantir que o procurador-geral dos EUA possa julgar jovens de 14 anos como adultos. Qualquer pessoa que se importe com o destino do nosso país deveria se preocupar com a forma como o Congresso está e tem buscado responder a essa acusação.
Nos últimos anos, os republicanos do Congresso ficaram obcecados por Washington, D.C. — propondo dezenas de projetos de lei federais que ditariam nossas leis locais. A ironia é que eles mal sabem uma coisa sobre Washington. Não tenho certeza se eles ou o presidente nos veem como compatriotas americanos — como pais trabalhadores, veteranos, estudantes, etc. — com vidas tão complexas quanto as de americanos em qualquer outro lugar. Em vez disso, Trump e os republicanos nos veem como um substituto para as cidades em que desconfiam: os urbanitas que tendem a votar contra Trump. É mais difícil para eles interferir na maneira como os líderes de Nova York, Detroit ou Phoenix administram suas cidades. Mas, como podem controlar Washington, D.C., eles nos transformaram em cobaias em uma tentativa sem precedentes de mostrar como administrar cidades em linha com a agenda MAGA.
Em meados de julho, participei de uma reunião da subcomissão de Dotações da Câmara, onde os republicanos do Congresso tentavam impor mais de uma dúzia de odiosos "dispositivos" orçamentários federais que controlariam o Distrito — por exemplo, propondo políticas extremamente lenientes de porte velado e incentivando os empregadores de Washington a discriminar mulheres que abortam — e, como não tenho direito a voto, não pude fazer nada além de assistir e ficar de braços cruzados. Eu era o único representante eleito de Washington na sala e não podia me manifestar sobre esses assuntos relacionados diretamente aos meus eleitores.
Os republicanos do Congresso também apresentaram três projetos de lei que revogariam as leis locais de DC. Os projetos revogariam o voto de não cidadãos em eleições estritamente locais, revogariam importantes reformas policiais adotadas pelo Conselho de DC em 2022 e determinariam como o governo de DC deve trabalhar com o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA. Alguns republicanos querem ir ainda mais longe: alguns republicanos na Câmara e no Senado apresentaram projetos de lei que aboliriam completamente o governo local de DC e permitiriam que o Congresso governasse a cidade por decreto.
Mas mesmo que você não se importe com o fato de 700 mil americanos serem sistematicamente excluídos de sua própria democracia, o que Trump e os republicanos do Congresso estão fazendo deveria assustá-lo. Porque o que eles estão fazendo conosco é apenas o começo.
Trump disse em sua coletiva de imprensa: “Temos outras cidades que estão muito ruins. … Não vamos perder nossas cidades por causa disso. E isso vai piorar. Estamos começando com muita força por Washington, D.C.”
Eles estão começando com Washington, D.C., mas não terminam conosco. O presidente deixou claro que seu governo está atacando todas as cidades azuis.
Você mora em uma cidade com uma política de cidade santuário? O governo Trump já está alegando que cortará suas verbas e contratos federais se sua cidade não revogar essa lei; a disposição dos democratas do Congresso em apoiar essa tentativa de governo de Washington D.C. encorajará o governo federal a realmente executar essas ameaças. Sua cidade tem leis fortes pró-escolha? Os republicanos cortarão seu financiamento do Medicaid se sua cidade não as revogar. Há criminalidade em sua cidade? O presidente pode em breve mobilizar a Guarda Nacional também para suas ruas. Se o presidente e os republicanos do Congresso conseguirem remodelar Washington D.C. à sua imagem, eles levarão essa estratégia para todo o país.
Temos um caminho a seguir. Qualquer ataque do Congresso aos nossos direitos deve superar a obstrução do Senado, que exige 60 votos. Isso significa que os democratas do Senado têm a capacidade de impedir que esses ataques à soberania de Washington, D.C. tenham sucesso. Diante desse ataque à democracia para os moradores de Washington, D.C., com muita frequência os democratas se alinharam timidamente. Quando os três projetos de lei que revogam as leis locais de Washington, D.C. foram votados na Câmara, 56 democratas votaram a favor de pelo menos um deles. Agora que a forma completa dos planos do governo federal ficou clara, precisamos que os democratas lutem contra todas as tentativas de Trump e dos republicanos do Congresso de tomar o controle de Washington, D.C. Todos os democratas do Senado devem votar contra os projetos de lei que revogam as leis locais de Washington, D.C., e nenhum deles deve apoiar um projeto de lei orçamentária federal que contenha ao menos uma nova cláusula sobre o tema.
Se você valoriza as políticas democráticas da sua cidade, é do seu interesse fazer com que os democratas parem o ataque a DC para que cada comunidade possa ser livre para viver com as políticas que seus eleitores apoiam.
É assim que a democracia funciona. Podemos não tê-la em Washington, mas se você mora em qualquer um dos outros 50 estados, você tem. Até nos tornarmos o 51º estado da união, Washington depende dos senadores de todos que vivem fora da capital do nosso país para lutar por nossos direitos. Espero que os senadores democratas enfrentem os ataques a Washington — não como uma caridade para nós, mas como parte essencial da luta pela soberania e autodeterminação de todas as cidades do nosso país.
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