Há 24 câmaras que nunca mudaram de cor. Com 89 autarcas de saída, será desta?

O que têm em comum Odivelas, Câmara de Lobos e Arraiolos? O que une Olhão, Boticas e o Seixal? São algumas das câmaras municipais que em quase 50 anos de eleições nunca mudaram de direção. No total, conforme uma análise feita pelo Instituto +Liberdade após as últimas autárquicas, há nove autarquias que sempre tiveram liderança socialista, outras tantas que nunca deixaram de ser conduzidas pelo PSD e ainda mais seis que se mantêm nas mãos do PCP desde que nasceram.
Antes de 2021, cerca de 10% das câmaras mantinham-se fiéis ao mesmo partido, mas nessas autárquicas quatro trocaram entre PSD e PS e três escaparam ao PCP, passando a ser lideradas pelos socialistas. Agora, a dois meses de novas autárquicas, há ainda um total de 24 câmaras que nunca mudaram de cor partidária, mas é bastante provável que essa realidade venha a alterar-se após 12 de outubro. Não apenas pela força que o Chega vem ganhando — um ímpeto que outros partidos então novos, como o BE (nascido em 1999) e o PAN (em 2009), nunca conseguiram capitalizar no território — como pelo facto de haver 89 presidentes de câmara que terminam agora o terceiro e último mandato.
O Bloco, que chegou a ter 19 deputados na Assembleia entre 2015 e 2022 (tendo hoje apenas uma deputada, a líder do BE, Mariana Mortágua), conseguiu eleger apenas uma presidente de câmara em 2001, mas viria a perder Salvaterra de Magos em 2013, quando Ana Cristina Ribeiro (Anita), chegou ao fim dos mandatos possíveis. E nunca mais conseguiu repetir.
Entre os partidos mais recentes, IL (2017) e Chega (2019), o percurso de André Ventura e a votação em escalada que tem conseguido, com grande expressão a sul — recorde-se que foi o partido vencedor nos distritos de Faro, Beja, Setúbal e Portalegre, subindo dos 50 para os atuais 60 deputados na Assembleia da República que fazem do Chega o maior partido da oposição — fazem crer que pode mesmo conquistar algumas câmaras nas próximas autárquicas.
O ECO fez as contas aos partidos que têm câmaras em cujos presidentes estão a chegar ao final de mandados permitidos por lei (três consecutivos na mesma autarquia) e revela que é o PS que está mais vulnerável, numas eleições autárquicas em que cerca de 30% dos 308 presidentes estão no limite.
Dos 89 que fecham o ciclo de três mandatos, mais de metade deles são socialistas, num total de 49 que lideram desde 2013, mas há também 21 autarcas social-democratas de saída e 12 comunistas. Há ainda três do CDS-PP e quatro independentes de saída entre esses quase 90. E reza a história que, em mais de 40% dos casos em que um autarca não pode candidatar-se, as autarquias mudam de cor partidária.
Apesar de o volume parecer mais penalizador para o PS, por uma questão de proporção é o PCP a ter maiores razões de preocupação. É que o partido liderado por Paulo Raimundo tem uma dúzia de autarcas de saída, num total de apenas 19 câmaras que resistem nas mãos dos comunistas (em 2015, eram 24). Ou seja, é bem provável que pelo menos algumas dessas seis que sempre foram comunistas deixem agora de o ser. Também o CDS tem metade das seis que lidera a solo com presidentes em limite de mandato.
O PS, por outro lado, tem ainda 148 câmaras e o PSD ou coligações lideradas pelo partido governam em 114 concelhos — incluindo os nove bastiões inabaláveis para cada lado —, pelo que a perda de parte das que têm líderes de saída não é tão significativa. São, ainda assim, 33% dos concelhos socialistas em que os atuais presidentes já não podem candidatar-se e 18% dos social-democratas.
sapo