Estudada relação entre problemas no pâncreas e Ozempic

Cerca de 400 pessoas que utilizaram injeções para emagrecer ou tratar a diabetes relataram problemas no pâncreas, tendo as autoridades de saúde do Reino Unido iniciado um estudo para perceber os efeitos da medicação utilizada, noticia a BBC. Em causa está o uso de fármacos como o Ozempic, Mounjaro e Wegory.
Os folhetos informativos destes medicamentos — originalmente desenvolvidos para tratar a diabetes — afirmam que a pancreatite é um efeito colateral raro que pode afetar um em cada 100 pacientes. No entanto, mais de um quarto dos casos relatados até agora ocorreram em 2025.
A investigação está a ser conduzida pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA, na sigla em inglês), em conjunto com a Genomics England, que está a pedir para que os pacientes que utilizaram estes medicamentos e foram hospitalizados com sintomas desta doença entrem em contacto através do sistema Yellow Card — uma plataforma oficial que relata as reações adversas a medicamentos ou vacinas — para detalhar os efeitos secundários e, se aceitarem, enviarem uma amostra de saliva para análise genética.
O objetivo, de acordo com Alison Cave, diretora de segurança da MHRA, é “prever melhor quem está mais propenso a ter reações adversas”, utilizando informações genéticas para identificar os pacientes com maior risco.
Segundo a mesma organização, foram registados mais de quatro centenas de casos de pancreatite, sendo que 181 desses casos estarão relacionados com o medicamento Mounjaro, assinalando-se cinco mortes. Já o Wegovy e o Ozempic estarão a ser associados a 113 casos de pancreatite e a uma morte.
No entanto, os especialistas alertaram para o facto de não haver uma clara evidência de ligação entre a utilização destes medicamentos e as mortes que se verificaram, uma vez que a pancreatite também se verifica em pessoas que não tomam os medicamentos que contêm GLP-1, a hormona produzida no trato intestinal que estimula a produção de insulina.
Para Matt Brown, professor e diretor científico da Genomics England, “os medicamentos GLP-1 como o Ozempic e Wegovy vêm ganhando destaque, mas podem acarretar efeitos colaterais sérios”. Muitos destes efeitos, acredita o professor, poderiam ser evitados com abordagens personalizadas, baseadas no perfil genético dos pacientes.
A fabricante do fármaco Mounjaro, Eli Lilly, declarou, entretanto, que a segurança dos pacientes é uma prioridade, monitorizando constantemente os dados de segurança dos seus produtos. “Efeitos adversos devem ser relatados ao sistema Yellow Card, mas podem estar relacionados a outras causas, como condições preexistentes”, afirmou um porta-voz ao mesmo jornal britânico. A empresa salientou, ainda, que o folheto informativo do Mounjaro já alerta sobre o risco de pancreatite e recomenda que os utilizadores com histórico da doença consultem um profissional de saúde antes de usar o medicamento.
Já a Novo Nordisk, responsável pelo fabrico do Ozempic e do Wegovy, também reiterou o compromisso com a segurança dos pacientes. “Como todos os medicamentos, efeitos colaterais podem ocorrer e variam de pessoa para pessoa. Os riscos e benefícios conhecidos estão descritos nas informações oficiais do produto. Recomendamos o uso apenas para as indicações aprovadas e sob supervisão médica rigorosa”, sublinhou a empresa numa nota publicada.
Tanto a MHRA como os fabricantes dos medicamentos frisaram a importância de os pacientes e profissionais de saúde continuarem a reportar quaisquer efeitos adversos ao sistema Yellow Card. A expectativa é que, com o avanço das pesquisas genéticas, seja possível compreender melhor os mecanismos por trás das reações adversas e, eventualmente, prevenir casos graves como os de pancreatite associada ao uso destes medicamentos.
observador