Ouro bate recordes após atenção dos investidores

O preço do ouro tem vindo a atingir níveis recorde. Ainda esta semana, ultrapassou os 3.500 dólares por onça, o que representa um máximo histórico desta matéria-prima. Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe, diz que esta valorização reflete «o enfraquecimento do dólar norte-americano e uma maior procura por ativos de refúgio.
E acrescenta: «O metal precioso tem vindo a ganhar terreno desde que Jerome Powell deu a entender que cortes nas taxas de juro poderão estar no horizonte, com a valorização a acelerar após o presidente dos Estados Unidos anunciar a demissão da governadora da Reserva Federal, Lisa Cook – uma decisão que reacendeu preocupações quanto à independência do banco central e receios de interferência política na política monetária».
Esta valorização não é nova. Desde o inicio do ano, o preço da onça já aumentou 30%. E a tendência será para subir. «A perspetiva de um dólar em baixa, sustentada pelas expectativas de um corte de taxas pela Fed e por algum afastamento dos investidores relativamente a ativos norte-americanos, deverá continuar a influenciar o sentimento dos mercados até ao final do ano, beneficiando o ouro devido à correlação inversa entre os dois ativos», diz Ricardo Evangelista.
O especialista admite ainda que, a partir do momento em que a possibilidade de paz entre a Rússia e a Ucrânia está a desvanecer-se e enquanto em Gaza não se vislumbra o fim dos combates, esta turbulência geopolítica tende a aumentar a procura por ativos de refúgio, apoiando o metal precioso. «Uma dinâmica acentuada pelos receios de que a interferência política possa comprometer a independência da Reserva Federal, bem como pela incerteza em torno das tarifas comerciais», considera Evangelista, referindo que, «neste contexto, os investidores estarão atentos à divulgação de dados económicos relevantes ao longo da semana, incluindo os números do emprego nos Estados Unidos, na sexta-feira, que poderão reforçar o sentimento negativo em relação ao dólar e oferecer novo suporte ao ouro, caso confirmem as expectativas de arrefecimento da economia americana».
Face a este cenário, o CEO da ActivTrades Europe não hesita: «Este desenvolvimento é negativo para a credibilidade da maior economia do mundo, pressionando o dólar e resultando em perdas face a outras moedas de referência, o que, por sua vez, sustentou o ouro, devido à correlação inversa entre os dois ativos. Com a possibilidade crescente de um corte nas taxas já em setembro, dúvidas quanto à independência da Fed a longo prazo e um enquadramento económico incerto, marcado por tensões comerciais e receios de um regresso da inflação, permanece a expectativa de que os preços do ouro possam registar ganhos adicionais».
Como investir
Apesar de o ouro continuar a ser visto como um bom investimento de refúgio no caso, esta vantagem só se aplica ao metal em termos físicos, já que, no que toca ao investimento em produtos financeiros associados ao ouro (fundos, ETF, entre outros), é preciso ter em conta que a cotação desta matéria-prima é extremamente difícil de prever.
Há ainda outras desvantagens relacionadas com o seu potencial de valorização e à especulação no mercado. E, ao contrário do que possa pensar, quando decidir vender barras de ouro, nada garante que ganhe dinheiro. Se considerarmos as comissões e as margens praticadas pelos bancos, a perda será ainda mais agravada. É muito provável que, mesmo num período de subida da cotação internacional do ouro, não consiga um melhor preço pelas barras, dado o diferencial que existe entre o valor da venda e o da compra. Mas, independentemente da forma escolhida para investir no metal precioso – desde tê-lo nas mãos, comprando moedas e barras ou investindo em produtos financeiros com exposição ao ouro –, o investidor deve ter sempre em consideração o horizonte temporal, que deve ser encarado numa perspetiva de longo prazo. E, caso pretenda guardar as barras no cofre de um banco, há que ter em conta o valor dessa mensalidade.
Prata acompanha tendência
A prata está também a acompanhar esta tendência de valorização, depois de já ter registado um aumento de 33% no acumulado do ano, superando o do ouro. «Este movimento é sustentado por fundamentos sólidos como o défice estrutural do mercado da prata, que se tem registado nos últimos cinco anos, enquanto a procura industrial atinge níveis recorde, impulsionada pelas revoluções tecnológicas e pela transição energética», explicou a XTB.
Ainda assim, os analistas da corretora admitem que a prata continua subvalorizada em relação ao ouro. «O rácio entre os dois metais está em 87, bem acima da média histórica de 50 a 60», sublinham, referindo que «uma normalização para níveis médios implicaria que o preço da prata poderia ultrapassar 55 dólares por onça».
Jornal Sol