Prisão perpétua a mulher que matou familiares com cogumelos

O tribunal de Victoria, em Melbourne (Austrália), condenou esta segunda-feira Erin Patterson a três penas de prisão perpétua pelo homicídio dos ex-sogros e da tia do ex-marido e ainda a uma pena de 25 anos de prisão pela tentativa de homicídio do tio do ex-marido, num almoço no qual serviu cogumelos venenosos.
“O impacto devastador dos seus crimes não se limita às suas vítimas diretas. Os seus crimes prejudicaram muitas pessoas”, referiu o magistrado, acrescentando: “Não só ceifou três vidas e causou danos permanentes à saúde de Ian Wilkinson [tio do ex-marido], devastando assim as famílias Patterson e Wilkinson, como também infligiu um sofrimento indescritível aos seus próprios filhos, a quem roubou os seus amados avós”.
Erin Patterson tinha sido considerada culpada em julho pelos homicídios dos ex-sogros Gail e Don Patterson, bem como da tia do ex-marido, Heather, na cidade de Leongatha, 135 quilómetros a sudeste de Melbourne. Durante um almoço em casa, em julho de 2023, Erin preparou e serviu uma especialidade inglesa, bife Wellington, contendo death cap — um dos cogumelos venenosos mais perigosos do mundo. O ex-marido, Simon Patterson, recusou o convite para o almoço.
Júri considera australiana culpada de matar familiares com cogumelos venenosos
Segundo a BBC, Erin Patterson, que alegou a sua inocência e que o envenenamento com cogumelos teria sido acidental, não esboçou reação ao anúncio da pena.
“Envolveu-se num elaborado encobrimento da sua culpa. A sua incapacidade de demonstrar qualquer remorso foi como deitar sal nas feridas de todas as vítimas“, acrescentou ainda o juiz, reforçando que “não demonstrou piedade pelas suas vítimas”.
O tribunal não quis especular sobre os motivos para os atos da arguida. De acordo com a Al Jazeera, Erin Patterson teria fingido que tinha sido diagnosticada com cancro como motivo para reunir os seus ex-familiares, sob o pretexto de querer conselhos sobre como dar a notícia aos seus dois filhos, que não estavam presentes no almoço. Erin casou com Simon Patterson em 2007 e o casal teve dois filhos, separando-se em 2015, embora a BBC indique que continuam legalmente casados e que a relação de ambos foi marcada pela tensão.
Um dos testemunhos mais relevantes do julgamento foi o do único sobrevivente do almoço, que até perdoou Erin Patterson pela tentativa de homicídio. Ian Wilkinson declarou que os convidados foram servidos em pratos cinzentos, enquanto Erin teria tomado a sua refeição num prato laranja, supostamente para garantir que não iria comer a comida com os cogumelos venenosos.
Na leitura da decisão — que já tinha fixado em julho a culpa da arguida e deixara apenas por estabelecer a medida da pena a aplicar —, o juiz Christopher Beale fixou ainda que Erin Patterson, de 50 anos, não pode ter direito a liberdade condicional por pelo menos de 33 anos. Ou seja, só pode ter acesso a uma eventual saída da prisão quando já tiver mais de 81 anos (factos ocorreram há pouco mais de dois anos).
De acordo com a BBC, o Ministério Público australiano queria a aplicação da pena máxima do país — prisão perpétua sem direito a saída por liberdade condicional —, porém, o juiz teve em conta o facto de a arguida estar há cerca de 15 meses isolada da restante população prisional, quando as diretrizes internacionais defendem a aplicação de uma medida dessa natureza por apenas 15 dias.
“As duras condições prisionais que já enfrentou são considerações importantes e ponderosas que devem ser tidas em conta na sentença. Na minha opinião, a única forma de as ter em conta é fixando um período sem liberdade condicional”, explicou. “Há uma grande probabilidade de que, para sua proteção, continue a ser mantida em confinamento solitário durante os próximos anos“, complementou, aludindo à “notoriedade” de Erin Patterson.
A defesa de Erin Patterson tem agora 28 dias para apresentar recurso da medida da pena ou mesmo do veredito do júri de 12 pessoas que determinou em julho, após cerca de 10 semanas de julgamento, a sua condenação pelas mortes dos ex-sogros e da tia do ex-marido, bem como da tentativa de homicídio do tio do ex-marido.
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