Austríacos realizam vigília para lamentar 10 vítimas de tiroteio em escola

Moradores da cidade austríaca de Graz realizaram uma vigília à luz de velas na noite de terça-feira em homenagem às vítimas de um tiroteio em uma escola, no qual 10 pessoas morreram. O ataque a tiros é o mais mortal da história recente do país.
A polícia disse que o atirador de 21 anos, um ex-aluno, tirou a própria vida no banheiro da escola logo depois.
O incidente ocorreu na escola secundária Dreierschützengasse, no noroeste da cidade.
Nove pessoas morreram no ataque, disse o Ministro do Interior, Gerhard Karner. Outras 12 pessoas ficaram feridas, algumas gravemente, segundo a polícia.
Mais tarde na terça-feira, a mídia local informou que uma mulher ferida morreu no hospital, elevando o número de vítimas para 10.
Na vigília, os moradores de Graz disseram que queriam transformar a praça principal da cidade em um mar de velas, e foi isso que fizeram.
No silêncio sussurrante, milhares de pessoas, em sua maioria jovens, reuniram-se ao longo da noite, sozinhas ou agarradas aos braços ou ombros de seus amigos. Acenderam velas, choraram ou permaneceram em pé por um tempo em oração ou contemplação.
Então, eles se aproximaram lentamente para entregar velas aos voluntários, que as organizaram cuidadosamente nos degraus da fonte.
A fonte do Arcebispo Johann é conhecida como o coração do centro histórico de Graz, em frente à prefeitura. Na noite de terça-feira, tornou-se um símbolo da dor e da solidariedade do povo austríaco.
"Quando você ouve sobre isso, você sente tanta simpatia pelas pessoas que talvez você conhecesse alguém", disse Felix Platzer, um transeunte na vigília, à agência de notícias Reuters.
"Este é um exemplo de solidariedade. Vocês sofrem juntos e juntos é mais fácil lidar com a situação", acrescentou.
Três dias de luto foram declarados na Áustria, e um minuto de silêncio nacional será realizado na quarta-feira às 10:00, horário local, em memória das vítimas.
As bandeiras no Palácio de Hofburg, em Viena, onde o presidente Alexander Van der Bellen tem seu escritório, serão hasteadas a meio mastro.
A escola onde o ataque ocorreu permanecerá fechada até novo aviso, de acordo com o Ministro da Educação da Áustria, Christoph Wiederkehr.
O chanceler austríaco, Christian Stocker, disse que terça-feira foi um "dia sombrio na história do nosso país" e declarou o tiroteio uma "tragédia nacional".
"Uma escola é mais do que apenas um lugar para aprender — é um espaço de confiança, para se sentir confortável e para ter um futuro", disse ele na conferência, acrescentando que esse lugar seguro havia sido "violado".
"Nessas horas difíceis, ser humano é o nosso ponto mais forte", disse ele.
A agência de notícias austríaca APA informou que sete dos mortos eram alunos.
O ataque "atinge o coração do nosso país", disse Stocker logo depois.
"Esses eram jovens que tinham a vida inteira pela frente."
O atirador, que ainda não foi identificado, era um ex-aluno da Dreierschützengasse que não se formou na escola, disse Karner em uma entrevista coletiva na tarde de terça-feira.
Seis mulheres e três homens foram mortos no ataque, e uma quarta mulher morreu mais tarde no hospital.
Houve muita especulação sobre o caso, observou Karner, acrescentando que agora é tarefa do escritório criminal investigar.
Na mesma conferência, a polícia disse que a motivação do atirador ainda estava sob investigação.
Os oficiais também confirmou que o atirador não era conhecido da polícia antes do ataque.
Informações atuais sugerem que o atirador possuía legalmente as duas armas usadas no ataque e tinha licença para porte de armas, acrescentou a polícia.
A mídia local informou que o suspeito usou uma pistola e uma espingarda para atirar.
Ele era um austríaco da região de Graz que agiu sozinho, disse a polícia.
A polícia informou que iniciou uma operação às 10h00, horário local (09h00 BST), depois que tiros foram ouvidos dentro da escola.
Uma unidade tática especializada Cobra - que lida com ataques e situações com reféns - foi enviada à escola, disse a polícia.
As autoridades retiraram todos os alunos e professores do prédio. A polícia confirmou que a escola havia sido isolada e que não havia mais perigo para o público.
"Localmente, vimos pessoas chorando nas ruas, conversando com amigos que estavam na escola quando o tiroteio aconteceu, que talvez tenham perdido um amigo", disse Fanny Gasser, jornalista do jornal austríaco Kronen Zeitung.
Ela disse à BBC News que "todo mundo conhece alguém" na escola porque Graz - apesar de ser a segunda maior cidade da Áustria - "não é tão grande".
Ela disse que a escola provavelmente não estava preparada para a possibilidade de um ataque. "Não estamos morando nos Estados Unidos, estamos morando na Áustria, que parece um lugar muito seguro."
A prefeita local, Elke Kahr, chamou o incidente de "uma tragédia terrível".
A vice-presidente da Comissão Europeia, Kaja Kallas, disse estar "profundamente chocada" com a notícia. "Todas as crianças devem se sentir seguras na escola e poder aprender sem medo e violência", publicou ela no X.
Astrid, uma mulher que mora com o marido Franz no apartamento térreo do prédio residencial ao lado da escola, disse à BBC que tinha acabado de pendurar a roupa quando ouviu tiros.
Ela disse: "Ouvi tiros. Muitos tiros, um atrás do outro. 'Puf... puf... puf... puf... puf...' repetidamente. Fui até o apartamento do meu marido e disse a ele: 'Alguém está atirando!'
"Ele achou que talvez fosse outra coisa, mas ouvimos dizer que foram uns 30 a 40 tiros. Aí meu marido ligou para a polícia."
"Vimos um aluno na janela. Parecia que ele estava se preparando para pular para fora... mas então ele voltou para dentro", disse Franz, acrescentando que também viram um professor.
Mais tarde, a dupla viu que os alunos tinham "saído da escola no térreo, pelo outro lado", onde "se reuniram na rua", disse Franz.

Na tarde de terça-feira, longas filas se formaram do lado de fora de um centro de doação de sangue em Graz.
"Hoje é um dia difícil para todos nós em Graz. Estou aqui para [doar] meu sangue e ajudar outras pessoas que precisam", disse Stephanie Koenig, de 25 anos, à agência de notícias Reuters.
"Hoje estou aqui porque queria fazer alguma coisa. Me senti impotente com a notícia", disse Johanna, 30 anos.
Outra pessoa na fila disse à Reuters que doar sangue parecia a "única maneira possível de ajudar".
BBC