Crônicas dos pássaros do quintal, de Amy Tan: Por que você deve temperar a ração dos seus pássaros com pimenta vermelha

"Corro o risco de me tornar ainda mais orgulhosa dos pássaros", exulta a romancista Amy Tan após publicar um vídeo de um wren de Bewick se divertindo em uma piscina em seu jardim. No mundo da observação de pássaros, isso equivale a uma foto de paparazzo daPrincesa de Gales de biquíni, já que se trata de uma ave raramente vista se banhando.

Tan é uma obcecada por pássaros, embora, curiosamente, até seus 65 anos ela tivesse pouco interesse neles.

Isso mudou quando ela começou a ter aulas de desenho da natureza com um professor cujo conselho era: "ao olhar para o pássaro, tente sentir a vida dentro dele". Tan viu paralelos com seu trabalho como romancista, porque "eu sempre imagino que sou o personagem que estou criando".

À medida que seus desenhos melhoravam, sua capacidade de reconhecer pássaros também melhorava. Ela percebeu que não precisava se aventurar no campo para observá-los; ela tinha seu próprio paraíso selvagem bem no seu jardim na Califórnia .

A casa de Tan fica entre quatro carvalhos centenários que são um "centro comunitário" para dezenas de espécies de pássaros. Seu jardim é cheio de coisas que os pássaros gostam: densa cobertura de árvores,

arbusto fúcsia produtor de néctar, maracujá, jasmim, hera, limoeiros e muita água. Se estivesse vendendo esta casa para um pássaro, ela reflete, apontaria para o escoamento da água da chuva do terraço, "onde um passarinho e sua família em crescimento podem pousar enquanto bebem e apreciam a vista da Baía de São Francisco".

Seus registros em diário, iniciados em 2017, registram seu fascínio pelas idas e vindas de seus visitantes aviários. Logo, ela está anotando os nomes de mais de 60 tipos de pássaros em seu jardim, de tentilhões, pardais e tordos a beija-flores, pica-paus, corujas, gaviões e bico-de-cera.

Tan não se limita a apreciar os pássaros; ela tem a curiosidade de uma romancista por descobrir a dinâmica de seus relacionamentos e frequentemente imagina conversas entre eles. Seu antropomorfismo faz com que, em alguns momentos, este livro se aproxime perigosamente do twee, mas isso é mais do que compensado pelos desenhos de pássaros de Tan, que os capturam em todo o seu esplendor emplumado.

Ela instala cada vez mais comedouros pelo jardim e experimenta constantemente a melhor comida para atrair os pássaros. Eles adoram sebo, mas os esquilos astutos e acrobáticos também. Por fim, ela descobre sebo com pimenta – "uma substância com poder infernal" – que não tem efeito sobre os pássaros, mas é detestada pelos esquilos.

Os bichos-da-farinha também fazem muito sucesso, e logo Tan tem 3.000 vivendo em um recipiente na geladeira, junto com um cadáver de pássaro no congelador (uma universidade local o quer para sua coleção científica). "Tenho um marido muito compreensivo", escreve ela.

Tan tenta persuadir sua vizinha de nove anos a abrir um negócio de criação de larvas de farinha para que ela possa obtê-las por um preço mais baixo. Infelizmente, sua mãe veta a ideia.

Mesmo que alguns nomes de pássaros sejam desconhecidos para um leitor britânico, este é um livro encantador para qualquer pessoa com um interesse passageiro por pássaros. Dá para entender por que ela acha que observar os pássaros em seu "quintal" é um passatempo tão envolvente.

Se ela aprendeu uma coisa, é que "cada pássaro é surpreendente e emocionante à sua maneira".