Hozier em Bogotá: o cantor encheu a Movistar Arena com a fantasia e a força de suas canções.

Ontem, a Movistar Arena foi tomada por uma atmosfera mágica. Com iluminação em tons de azul e roxo, uma decoração de raízes descendo do topo do palco e os sons envolventes de uma grande banda e um coral gospel, Hozier proporcionou aos seus fãs um show que os levou a mergulhar ainda mais fundo no universo de sua música e, principalmente, de seu último álbum, 'Unreal Unearth'.
O cantor norte-irlandês, que mais tarde disse no show que ele e seus músicos acham desafiador tocar em uma altitude tão extrema, cantou 22 músicas ao vivo com uma voz que não é nada diferente das gravações. Essa performance vocal foi acompanhada por uma energia que se adequava perfeitamente a cada uma de suas músicas, alternando entre a majestade, a doçura, a fantasia, o poder e a sensualidade de seus vários álbuns.
Sua apresentação foi precedida pela da cantora americana Gigi Perez. O público a recebeu com entusiasmo e gritou durante todo o show, atingindo o ápice da emoção com "Sailor Song", uma música que ficou famosa no TikTok e já acumulou mais de um bilhão de reproduções no Spotify. E essa proximidade com a rede social esteve presente durante todo o show, desde a música que tocou enquanto o público aguardava o início do show, até a própria apresentação de Hozier, onde ele cantou pelo menos quatro de suas composições que viralizaram na plataforma.

Hozier foi acompanhado por uma banda de nove músicos. Foto: Andrea Moreno. O TEMPO
Um holofote na figura da cantora e um fundo estrelado deram início ao show. 'De Selby (Parte 1)' foi tocada, com o som principal do violino e da viola, e marcou o que seriam as próximas duas horas. Tanto ele quanto toda a sua banda estavam vestidos de cinza, contrastando com os tons de vinho, verde e marrom do traje de seus fãs, muitos dos quais também usavam saias longas e flores no cabelo, evocando a terra e a fantasia que caracterizam a identidade do 'Unreal Unearth'.
Em diversas ocasiões, parte da mesma plateia levantou buquês de margaridas em sua direção e até mesmo as jogou, elogiando sua performance. “É uma alegria e um prazer absolutos estar em seu lindo país”, disse ele após as duas primeiras músicas, elogiando a multidão que encheu a arena com seus gritos e cânticos, mesmo que ela não estivesse lotada. O cantor já havia visitado a Colômbia em 2024 com o festival Estereo Picnic, mas o de ontem foi seu primeiro show solo.
O etéreo e o fantástico, embora sempre presentes pela atmosfera que sua banda conseguia gerar, pelos efeitos de sua voz e pelos cabelos esvoaçantes do cantor que o faziam parecer estar no meio de uma brisa, foram canalizados ainda mais com certas músicas, como 'Abstract (Psychopomp)'. Durante a apresentação, os holofotes se voltaram para alguns participantes e uma fã, com uma das mãos no coração, cantou a música enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.
Mas a verdadeira cerimônia foi com 'Take me to church', sua composição mais famosa. Em um ponto próximo ao final da música, Arena gritou "Amém, Amém, Amém" e foi levada pelo poder daquela letra, cantada com uma atitude desafiadora que a transformou em um hino LGBTIQ+ e culminou com tambores estrondosos.

Este é o primeiro show da nova etapa latino-americana da turnê. Foto: Andrea Moreno. O TEMPO
As melodias e versos mais românticos de Hozier soavam com canções como 'Like real people do', à luz das lanternas do público; 'Cherry Wine' e 'Unknown (nth)' acompanhadas apenas por seu violão em um pequeno palco secundário na outra extremidade da arena; e 'Eu, Carniça (Icário)', um poema de amor inspirado no mito de Ícaro.
O norte-irlandês também demonstrou sua ternura e gratidão em seus constantes agradecimentos aos fãs e seu insistente reconhecimento aos membros de sua banda e equipe, a quem ele homenageou em diversas ocasiões. Os fãs responderam com entusiasmo, e vários gritos de "nós amamos vocês" e alguns "papais" foram ouvidos da plateia. Em determinado momento, quando todos deixaram o palco antes da aparição do cantor no outro palco, alguns fãs gritaram "Hozier, Hozier, olé olé olé olé", como se fosse uma partida de futebol.
Os momentos mais sensuais da noite foram oferecidos por 'Movement' e 'To be alone', com atmosferas vermelhas e sons estridentes que ilustraram perfeitamente a sensualidade das letras e culminaram num clímax de coros e instrumentos.

Hozier agradeceu aos fãs por apoiarem sua música e recebê-la com emoção. Foto: Andrea Moreno. O TEMPO
'To be alone' deu lugar a um interlúdio amarelo e distorcido com o qual 'Dinner & diatribes' começou, reforçado pela percussão manual, na forma de palmas e cliques, fornecidos pelos músicos e pelo próprio público. Essa força não era incomum ontem, pois estava presente em cada poucas músicas, ou mesmo em trechos contínuos, graças ao aspecto rock recorrente de todos os álbuns de Hozier. A estridência de 'Francesca', a vibração do Led Zeppelin inspirada nos anos setenta de 'It Will Come Back' e a interpretação poderosa de 'Nina Cried Power' ofereceram alguns dos momentos mais energéticos da noite.
Porém, se houve algo realmente poderoso, foi o discurso que antecedeu esta última música. Aproveitando o tema de sua colaboração com Mave Staples, que fala de unidade e resistência, Hozier fez um discurso discutindo o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, a resistência na Irlanda do Norte e até mesmo o conflito colombiano, convidando o público a usar suas vozes dentro da democracia para defender a humanidade. Ele aproveitou a oportunidade para se manifestar a favor de um cessar-fogo em Gaza após 16 meses de horror para o povo palestino e concluiu com um apelo contra o imperialismo, que, segundo ele, se manifesta na polarização, no racismo e na apropriação de terras e recursos. “Todos os dias temos a oportunidade de rejeitar o imperialismo”, disse ele.

A cantora tem uma carreira musical que abrange mais de 10 anos. Foto: Andrea Moreno. O TEMPO
O show terminou com "Work song" e um Hozier agradecido dizendo ao público que retornaria ao país. Quando as luzes se acenderam, o público começou a se juntar aos outros lentamente, enquanto algumas pessoas enxugavam as lágrimas ou caminhavam entre as margaridas no chão, com "Have You Ever Seen the Rain", do Creedence Clearwater Revival, tocando ao fundo. "Foi ótimo, gostei muito. Não sei, foi como mágica", disse Valentina, fã de Hozier há 10 anos, que estava enrolada na bandeira colombiana. Sua voz soava rouca de tanto cantar a plenos pulmões.
LAURA MANUELA CANO LOAIZA
Escola de Jornalismo Multimídia El Tiempo
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