Uso mais frequente de maconha pode prejudicar importante capacidade de memória
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Um estudo recente em larga escala revelou novas descobertas sobre o impacto do uso de cannabis na memória. Publicada na revista médica JAMA Network Open, esta análise é a mais abrangente até o momento e avaliou mais de 1.000 pessoas entre 22 e 36 anos para entender como essa substância afeta a memória de trabalho.
A cannabis é uma das drogas mais consumidas no mundo, tanto para fins recreativos quanto medicinais. À medida que sua legalização avança em várias regiões, o interesse em entender seus efeitos na saúde, particularmente na função cerebral, também está crescendo. Embora seu impacto no sistema nervoso tenha sido investigado anteriormente, este estudo fornece uma visão mais detalhada apoiada por neuroimagem que revela alterações na atividade cerebral associadas à memória.
Principais conclusões do estudo A equipe de pesquisa usou imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) para analisar a atividade cerebral dos participantes enquanto eles realizavam tarefas que envolviam memória de trabalho, uma função cognitiva essencial para processar e armazenar informações temporariamente. Os resultados indicaram que tanto usuários recentes quanto regulares apresentaram uma redução significativa na ativação de certas áreas do cérebro em comparação aos não usuários.
As regiões mais afetadas incluíram o córtex pré-frontal dorsolateral, o córtex pré-frontal dorsomedial e a ínsula anterior. Essas áreas desempenham um papel fundamental na tomada de decisões, na atenção, na regulação emocional e, claro, na memória de trabalho. Segundo os pesquisadores, a diminuição da atividade cerebral sugere que a cannabis pode interferir na capacidade do cérebro de reter e manipular informações em tempo real.
Como a cannabis afeta a memória de trabalho? A memória de trabalho é essencial para muitas tarefas cotidianas, como lembrar instruções, realizar cálculos matemáticos ou acompanhar conversas complexas. Quando essa função é afetada, as pessoas podem ter dificuldade de concentração, de tomar decisões acertadas e de processar informações de forma eficiente.
O estudo descobriu que 63% dos usuários regulares e 68% dos usuários recentes apresentaram ativação cerebral reduzida durante esses testes cognitivos. Isso indica que os efeitos da cannabis não afetam apenas aqueles que a consomem regularmente, mas também aqueles que a usaram em um período próximo à avaliação.
Um dos principais fatores desse fenômeno é o tetrahidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da cannabis. O THC se liga aos receptores canabinoides no cérebro, particularmente em áreas envolvidas na memória e na cognição, o que pode interromper a comunicação neuronal e reduzir a eficiência dos processos cerebrais.
Implicações e recomendações a longo prazo Um dos aspectos que ainda requer mais pesquisas é a permanência desses efeitos. Embora alguns estudos sugiram que a função cognitiva pode melhorar após um período de abstinência, não está claro se há danos irreversíveis naqueles que usaram cannabis por longos períodos.
Pesquisadores enfatizam a importância de os consumidores estarem cientes desses efeitos potenciais, especialmente em contextos onde a memória de trabalho é crucial, como em ambientes acadêmicos ou profissionais. Evitar o uso de cannabis antes de realizar tarefas que exijam alto nível de concentração e processamento de informações pode ajudar a minimizar o impacto no desempenho cognitivo.
Além disso, o estudo destaca a necessidade de continuar explorando os efeitos da cannabis em diferentes faixas etárias e em pessoas com diferentes frequências de consumo. As descobertas atuais fornecem uma base importante, mas ainda há dúvidas sobre como isso afeta o longo prazo e se certos grupos podem ser mais vulneráveis do que outros.
eltiempo