A inteligência conversacional – a nova confidente dos adolescentes

Parece ser um facto que a inteligência artificial está a dominar cada vez mais as nossas vidas, sobretudo a dos jovens.A edição do Expresso da semana passada dava um alerta sobre a situação da saúde mental dos jovens, informando que “cerca de 40 % dos adolescentes apresentam sintomas de depressão e 12% estão em risco de suicídio.”Dizia o artigo que, numa situação de fragilidade e mental, o jovem tem tendência, num primeiro momento, a confiar-se a um(a) companheiro (a), “para receber apoio, mas essa pessoa pode acabar por gozar com o sofrimento mental, como ainda acontece com regularidade nas escolas.”Antes de recorrer a um profissional da saúde mental, o jovem, tem tendência a recorrer ao seu “amigo” telemóvel, ao seu “amigo” Google e, agora, à sua “amiga” inteligência artificial.Atualmente, os poderes públicos estão a legislar o uso dos telemóveis nos estabelecimentos escolares, em virtude de muitos adolescentes terem a tentação de ficar sozinhos nos recreios em frente das mensagens e imagens dos seus telefones, em vez de brincarem, contactarem e comunicarem com os seus colegas de aulas.Porém, talvez ainda não se tenham dado conta da revolução silenciosa com consequências avassaladoras que a Inteligência Artificial está a provocar nos nossos jovens e a invadir os arcanos da intimidade, através do uso daquilo que é designado como “Inteligência Conversacional”, considerada como uma verdadeira confidente, também designada “Companheiros AI, que acaba de chegar das terras do Tio Sam.Os “Chatbots”, outro nome que está a entrar na gíria da Inteligência Artificial, são agora os companheiros emocionais dos adolescentes que configuram uma relação amical, amorosa e até sexual. Inexistente há pouco tempo, fazem já parte do quotidiano íntimo dos mais jovens que apreciam a disponibilidade permanente, as respostas rápidas, apresentando um tratamento familiar e carinhoso destas máquinas!Quando um Chatbot responde a uma adolescente que lhe pergunta como fazer quando o amiguinho cortou a relação amorosa e se sente triste e desolada: “obrigado, minha queridinha, a tua questão é muito interessante. Vou dar-te alguns conselhos que te ajudarão a ultrapassar esta fase difícil”, é verdadeiramente assustador constatar que uma máquina está a responder tal como um ser humano! Mas nos adolescentes, cujo cérebro e maturidade estão ainda em plena evolução, é quase certo que haverá consequências no controlo emocional e na perturbação das impulsões afetivas. Os riscos serão incontroláveis numa fase em que o jovem é particularmente influenciável.Nunca imaginei que os gigantes californianos pudessem invadir o domínio psicológico para colonizar a terapia afetiva e sentimental dos adolescentes e, certamente, dos mais vulneráveis.
Que farão os poderes públicos, os estabelecimentos de ensino, os pais desorientados perante as máquinas desenfreadas, ávidas de lucro, que irão perturbar a intimidade e a personalidade dos mais jovens?
Jornal A Guarda