Novobanco. Solução de venda causa surpresa

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Novobanco. Solução de venda causa surpresa

Novobanco. Solução de venda causa surpresa

O desfecho em torno da venda do novobanco esteve em aberto quase até ao fim. O Nascer do SOL sabe que quase até às vésperas do anúncio da alienação, a administração financeira andava em roadshow junto de investidores internacionais e a par da venda direta, que acabou por acontecer ao grupo francês BPCE por 6,4 mil milhões de euros, continuava em cima da mesa a hipótese de avançar com a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês, ou uma entrada em bolsa).

O nosso jornal sabe que o CEO Mark Bourke chegou a negociar a venda de ações com desconto junto dos trabalhadores e que a ideia seria assinar o contrato nos dias seguintes, assim que chegasse da apresentação institucional do banco. «Mark Bourke fez o seu trabalho. O novobanco estava a ser preparado para a venda, valorizou a instituição financeira, deu-lhe visibilidade, chamou a atenção para os seus pontos fortes, suscitou um valor nunca antes pensado e superou os melhores cenários, mostrando que era uma noiva apetecível», diz fonte conhecedora do processo.E recorda os montantes que tinham sido avançados no final do ano pelo próprio novobanco e que apontavam para uma venda entre três a quatro mil milhões de euros e 2027 como prazo. Nessa altura e, tendo em conta esses valores, o Estado ficaria com mil milhões, abaixo dos dois mil milhões de euros que entretanto anunciou – 1,6 mil milhões que encaixou com a operação, acrescidos dos dividendos.

É certo que aí, a instituição instituição financeira ainda estava em negociações com o Fundo de Resolução que detém 25% do banco para o fim antecipado do mecanismo de capital contingente e para abrir portas não só para o pagamento de dividendos como também para a alienação do banco. «Não só foi possível avançar com o processo de alienação dois anos mais cedo como também foi vendido por mais do dobro. Houve condições técnicas e económicas para antecipar esta operação e isso foi de génio», lembrando as recentes declarações do CEO do BCP, Miguel Maya, que duvidava do valor do novobanco quando o Financial Times apontava há cerca de duas semanas para valores entre cinco e sete mil milhões de euros, «dando a entender que, num casos desses, o BCP valeria muito mais e que claramente o vendedor estaria a inflacionar».

Fundo abutre ou competência?Quando em 2017 o novobanco foi vendido ao fundo de investimento norte-americano Lone Star – que ficou com 75% em troca de uma injeção de capital de mil milhões de euros: 750 milhões disponibilizados no fecho da operação e 250 milhões de euros mais tarde – muitos consideravam que estávamos perante um fundo abutre, em que a ideia era recuperar, capitalizar e vender. Oito anos depois tem uma mais-valia de 4,8 mil milhões, mas se somarmos os dividendos recebidos nos últimos meses atinge os 5,8 mil milhões de euros.Fonte ligada ao processo afasta a ideia de ‘fundo abutre’, lembrando que, naquela altura, ninguém queria ficar com o banco e dá como exemplo o que se verificou com o Lehman Brothers com a crise financeira, em 2008, e com a cotação do Citibank «que hoje é seis vezes mais alta do que foi a seguir à crise do subprime porque tinha disponibilidade financeira, arriscou e teve a sua recompensa». E quanto ao banco português não hesita: «Há 11 anos, 17 levantaram o caderno de encargos e houve zero ofertas, três anos depois é vendido à Lone Star que deve ter imposto um conjunto condições, nomeadamente a crivação de um mecanismo de capital contingente. Ou seja, comprou como se dizia antigamente com cintos e suspensórios, mas também foi o único que arriscou, enquanto os outros potenciais interessados não quiseram fazer este esforço», revela ao nosso jornal.

O resultado está à vista: «Embora mais pequeno é inegável é inegável que esta equipa colocou o novobanco outra vez no caminho daquilo que tinha sido uma herança do Espírito Santo, um banco muito focado na atuação comercial, com resultados comerciais muito elevados e mais enxuto em termos de despesa. Hoje bate-se mano a mano com o Santander Totta, que é historicamente o banco mais eficiente do grupo Santander na Europa toda, o que é verdadeiramente notável, e, comparando com o BPI, este tem um desempenho medíocre quando comparado com o Santander ou com o novobanco».

Mas para isso lembra que foi preciso cortar com as operações herdadas do Espírito Santo, que eram consideradas «máquinas para absorver depósitos e poupanças de imigrantes», cortaram no private banking que «estavam espalhados um pouco por o lado» para dar origem, no seu entender, «a uma operação mais pequena, mas que no essencial cobre 95% da população portuguesa e das PME, mantém um fluxo interessante de crédito e capta a atenção do mercado dos depósitos».

Já em relação aos lesados do BES, que continuam a estar fora destas operações, a mesma fonte lembra que estamos perante uma pequena percentagem, nomeadamente um grupo de imigrantes da Venezuela que compraram títulos não emitidos pelo Espírito Santo Irmão ou pela Rioforte, onde havia algum tipo de ativos, mas de umas sociedades veículo no Panamá, Ilhas Caimão e Bahamas. «Em relação aos restantes, o Governo de António Costa conseguiu encontrar uma solução, em que as pessoas recuperaram 75% do seu dinheiro até 500 mil euros e acima disso 50%», salienta.

Quem é o compradorAo que o Nascer do SOL apurou, o anúncio da venda aos franceses BPCE apanhou o mercado de surpresa. Nesse dia, o novobanco disse que a instituição financeira explicou que a decisão do acionista maioritário de avançar com uma venda direta representou «uma oportunidade estratégica, posicionando o novobanco para integrar um dos maiores e mais sólidos grupos financeiros europeus», referindo que, «nomeadamente ao lado das redes bancárias Banque Populaire e Caisse d’Epargne, o BPCE reforçará o seu papel como um importante parceiro de desenvolvimento da economia portuguesa».

Ao nosso jornal, a mesma fonte lembra que este grupo é resultado da fusão de dois bancos, numa altura em que se assistiu à consolidação do sistema financeiro, um mais ligado ao crédito e o outro à poupança com o objetivo de reforçar rácios de capital «para poderem sobreviver», mas com uma filosofia equiparada ao Montepio.

E, de acordo com os critérios, é o segundo ou o terceiro banco a operar no mercado francês, estando «mano a mano com Crédit Agricole e BNP Paribas» e com a vantagem de não ter de dispensar trabalhadores e de fechar balcões. Um cenário que seria aplicado se o novobanco fosse comprado por alguma instituição financeira que atuasse no mercado nacional porque teria de eliminar sobreposições. «Quando o BCP, na fase de Jardim Gonçalves, adquiriu o Sotto Mayor e Banco Português do Atlântico e quando o Santander adquiriu o Totta, o Popular e o Banif, assistimos a lógicas de redução de custos. Neste caso estamos a assistir a um projeto que não assenta na mera redução de custos, isto é, vamos poupar provavelmente vários milhares de postos de trabalho qualificados e vamos manter os fluxos financiamento â economia num mercado que apresenta um elevado nível de concentração. Estes vêm fazer aquilo que sempre fizeram, que é fazer crescer um banco de base local», conclui.

Jornal Sol

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