Tarifas: petróleo russo leva Trump a impor à Índia um adicional de 25%

Tal como já era esperado, a Casa Branca confirmou a imposição de uma tarifa adicional de 25% (por cima dos 25% adicionais) sobre produtos importados da Índia. A medida ocorre após reuniões do principal enviado diplomático de Trump, Steve Witkoff, em Moscovo, com o objetivo de pressionar a Rússia a concordar com a paz na Ucrânia. É que a imposição da nova tarifa sobre a Índia radica no facto de o Estado asiático entender que não deixará de negociar a compra de petróleo produzido na Rússia.
Em princípio, o facto de a Casa Branca alinhar a decisão com a visita de Witkoff a Moscovo deverá querer dizer que o encontro não terá corrido pelo melhor – ao contrário do que as agências internacionais vão debitando. É que parece claro que a nova tarifa penaliza tanto a Índia como a Rússia – o que poderá indicar que os Estados Unidos observam como impossível a paz na Ucrânia até esta sexta-feira e que se preparam para lançar sanções sobre o regime de Vladimir Putin. Trump ameaçou impor tarifas mais altas à Rússia e sanções secundárias aos seus aliados, caso o presidente russo não tome medidas para acabar com a guerra na Ucrânia.
A Índia é o terceiro maior importador e consumidor de petróleo do mundo. O país recebeu cerca de 1,75 milhões de barris de petróleo russo por dia entre janeiro e junho deste ano, um aumento de 1% em relação ao ano anterior, segundo dados do mês passado. Durante esses seis meses, a Rússia continuou a ser o principal fornecedor da Índia, respondendo por cerca de 35% do fornecimento total de petróleo do país.
As compras de petróleo russo pela Índia, vendido a preços reduzidos, aumentaram depois de os países ocidentais imporem sanções ao petróleo russo e pararem de comprar a Moscovo.
As negociações com a Índia têm sido, a par da China, das mais problemáticas para a administração Trump. Um caso surpreendente, uma vez que a China é ‘o’ inimigo da economia norte-americana, enquanto que a Índia é considerada um dos seus aliados mais sólidos na Ásia, a par com o Japão e a Coreia do Sul.
Após cinco rondas de negociações comerciais, as autoridades indianas estavam tão confiantes em garantir um acordo favorável com os Estados Unidos que chegaram a sinalizar que as tarifas poderiam ser limitadas a 15%. A Índia esperava que Trump, anunciasse o acordo pessoalmente semanas antes do prazo final de 1 de agosto, mas o anúncio nunca aconteceu.
A maior e a quinta maior economia do mundo, cujo comércio bilateral vale mais de 190 mil milhões de dólares anuais organizaram uma visitas do ministro do Comércio indiano, Piyush Goyal, a Washington, e do vice-presidente dos EUA, JD Vance, a Déli – num quadro em que, tudo o indicava, a Índia seria um dos casos isolados de forte entendimento bilateral entre os Estados Unidos e um seu parceiro comercial. O Japão era outro. Nova Déli oferecia tarifas zero-por-zero (tal como a União Europeia) sobre produtos industriais que representavam cerca de 40% das exportações dos EUA para a Índia, segundo relata a agência Reuters. Apesar da pressão interna, a Índia também reduziria gradualmente as tarifas sobre automóveis e álcool vindos dos Estados Unidos e estava disponível para aumentar as importações de energia e do setor da defesa – mais uma vez, tal como a União Europeia.
Foi um erro de cálculo. Trump viu a questão de forma diferente e queria mais concessões – entre elas a questão do petróleo russo, que, com o andamento negativo do ‘dossiê Ucrânia’, passou a constituir um objetivo central da Casa Branca.
Convém recordar que, ainda na área diplomática, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi visitou Washington em fevereiro passado, tendo concordado em fechar um acordo até ao outono de 2025 e mais que dobrar o comércio bilateral para 500 mil milhões de dólares até 2030. Para cobrir o déficit de 47 mil milhões no comércio de bens, a Índia prometeu comprar até 25 mil milhões em energia dos EUA e aumentar as importações de defesa. Modi saiu de Washington demasiado otimista com a contraparte, depois de ter ouvido de Trump na iminência de um “grande” acordo. Erradamente, Nova Déli optou por endurecer a sua posição, especialmente em relação à agricultura e aos produtos derivados do leite, duas áreas altamente sensíveis para o governo indiano. E insistiu mesmo num alívio da tarifa média de 10% que os EUA impuseram ao mundo em abril, além de uma reversão de impostos sobre aço, alumínio e automóveis. De seguida, e depois de ver o que sucedeu ao Japão e à União Europeia, a Índia apostou tudo na concessão de uma tarifa de 15%. É a tarifa com que conta a Coreia do Sul – mas a Índia não tem músculo financeiro para acompanhar a ‘oferta’ dos coreanos: 350 mil milhões em investimentos nos próprios Estados Unidos.
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