O que é Fusarium graminearum, o fungo que as autoridades americanas dizem ter sido contrabandeado da China?

Os promotores federais acusaram dois pesquisadores chineses de contrabandear um fungo que mata plantações para os EUA no verão passado
NOVA YORK — Promotores federais acusaram dois pesquisadores chineses na terça-feira de contrabandear um fungo que mata plantações para os EUA no verão passado — acusações que ocorrem em meio a tensões políticas crescentes entre os dois países e enquanto o governo Trump toma medidas para revogar vistos de estudantes chineses visitantes.
Yunqing Jian e Zunyong Liu são acusados de conspiração, contrabando, falsidade ideológica e fraude de visto por supostamente trazerem o fungo Fusarium graminearum para os EUA. Jian, de 33 anos, foi autuado em um tribunal federal de Detroit. Acredita-se que Liu, de 34 anos, esteja na China.
De acordo com o FBI, Liu tinha pequenos saquinhos do fungo escondidos em sua mochila quando voou para os EUA no ano passado e, após alegar desconhecer o material vegetal contido neles, disse que planejava usá-los para pesquisas em um laboratório da Universidade de Michigan, onde Jian trabalhava e onde Liu trabalhou anteriormente.
Fusarium graminearum causa uma doença chamada giberela, que pode dizimar plantações de cereais como trigo, cevada, milho e arroz. Ela causa perdas anuais de US$ 1 bilhão em plantações de trigo e cevada nos EUA, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.
Não é o único fungo causador da giberela, mas é o mais comum nos EUA. O fungo infecta as plantas no início da estação de crescimento, murchando os grãos de trigo e deixando as espigas com uma coloração branco-amarelada. Também causa o acúmulo de uma toxina nos grãos de trigo, o que pode torná-los impróprios para consumo humano e animal.
Apelidada de “vomitoxina” por ser mais conhecida por causar vômitos em animais, ela também pode causar diarreia, dor abdominal, dor de cabeça e febre em animais e pessoas.
O trigo e outros grãos são examinados em busca de diversas toxinas, incluindo Fusarium graminearum, antes de serem usados na alimentação de animais e humanos. Os agricultores precisam descartar os grãos infectados, o que pode causar perdas devastadoras.
“É um dos muitos problemas que os agricultores enfrentam e que colocam em risco seu sustento”, disse David Geiser, especialista em Fusarium na Penn State.
Embora Jian e Liu sejam acusados de contrabandear Fusarium graminearum para o país, o fungo já é prevalente nos EUA — particularmente no leste e no Alto Centro-Oeste — e cientistas o estudam há décadas.
Pesquisadores frequentemente trazem plantas, animais e até mesmo cepas de fungos estrangeiros para os EUA para estudá-los, mas precisam obter certas autorizações antes de transportar qualquer coisa através de fronteiras estaduais ou nacionais. Estudar os genes de uma cepa de fungo estrangeira, por exemplo, pode ajudar os cientistas a entender como ela tolera o calor, resiste a pesticidas ou sofre mutações.
“Observamos as variações entre os indivíduos da mesma forma que fazemos com os humanos”, disse Nicole Gauthier, fitopatologista da Universidade de Kentucky que estuda o Fusarium.
Dito isso, não está claro por que os pesquisadores chineses quiseram trazer essa cepa de Fusarium graminearum para os EUA e por que não preencheram a papelada adequada para isso.
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