<![CDATA[ O Apocalipse Lusitano ]]>
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A recente detenção e prisão pela PJ de elementos pertencentes ao grupo de inspiração neo-nazi "Movimento Armilar Lusitano" (MAL) e a apreensão de um arsenal de armas produzidas com recurso ao uso de impressoras 3D, é um sinal de alarme relativamente à infiltração na sociedade portuguesa de grupos, mais ou menos organizados, motivados pela vontade de atacar as instituições políticas e militares na pessoa das suas figuras cimeiras. O objectivo é simples: Provocar o caos na ordem pública, destruturar o estado, semear o confronto, e, quiçá, fomentar a própria guerra civil.
Em Portugal, o MAL, que integra elementos ligados às forças de segurança, é, para já, aquilo que mais se aproxima da defesa dos valores do aceleracionismo apocalíptico. O acelaracionismo apocalíptico representa uma ideologia extremista que defende o uso deliberado da violência ou do colapso social como meio para provocar uma transformação radical, ou mesmo o fim, da ordem actual. Esta visão distorcida, frequentemente alimentada por discursos supremacistas, teorias da conspiração e ressentimentos sociais, está associada a alguns dos ataques terroristas mais brutais dos últimos anos, como o massacre de Christchurch (2019) ou o atentado em Buffalo (2022). Embora este fenómeno tenha raízes profundas no mundo anglo-saxónico, o seu potencial de propagação para Portugal não pode, nem deve ser subestimado. O nosso país não está imune às dinâmicas globais da radicalização online. Plataformas como Telegram, Discord, 4chan ou fóruns em darknet servem de terreno fértil para a difusão de ideias apocalípticas, sobretudo entre jovens isolados ou indivíduos com perceções de injustiça social. O risco aumenta quando esses discursos se articulam com temas locais de forte impacto social como a imigração, declínio económico, crise habitacional ou desconfiança nas instituições publicas,podendo alimentar versões domésticas de ódio ideológico com objetivos destrutivos A monitorização de entidades como o Observatório Europeu da Radicalização tem identificado células portuguesas associadas a símbolos extremistas (como o Sonnenrad ou o martelo de Thor) em fóruns internacionais, onde circulam traduções portuguesas de manifestos como "The Great Replacement" ou "Siege" de James Mason, textos basilares do aceleracionismo violento. Durante a pandemia do COVID-19 assistimos à apropriação local de teorias conspirativas globais por parte de vários grupos negacionistas que adoptaram uma retórica antissistema e até antiestatista, com ameaças a instituições públicas e apelos à sabotagem de infraestruturas. Em 2021, o Ministério Público investigou indivíduos por apelos à violência contra médicos, jornalistas e membros do Governo, num discurso que combinava posições da Qanon norte-americana, do negacionismo e da lógica aceleracionista. Também se registam entre nós casos de adolescentes a partilhar conteúdos de treino paramilitar, tutoriais de fabrico de explosivos e elogios a atiradores como Brenton Tarrant (autor do massacre de Christchurch na Nova Zelância em 2019) ou Anders Breivik (autor do massacre em Oslo e na Ilha de Utoya em 2011), num contexto de glorificação do colapso civilizacional. Em 2023, um aluno do ensino secundário na margem sul foi sinalizado por partilhar conteúdo racista e listas de potenciais alvos num grupo restrito do Telegram. Embora não tenha havido acusação formal, o SIS considerou o caso de risco elevado. Também tem sido notado o surgimento em várias cidades portuguesas de graffitis com mensagens apocalípticas ou slogans como "acelera o fim", e a vandalização de instituições ligadas à integração de migrantes e refugiados, como centros do Alto Comissariado para as Migrações, o que é demonstrativo que já há sinais de que ideologias disruptivas começam a ser expressas no espaço público. A infiltração de discursos extremistas em eventos pseudocientíficos e sobrevivencialistas, como as feiras de "preparadores" e "autossuficientes" em zonas mais rurais do país, têm servido ocasionalmente de palco para a partilha de discursos antipolíticos, antidemocráticos e colapsistas, com participantes a defender o "fim do sistema" como oportunidade para instaurar uma nova ordem "limpa". Apesar de o país manter níveis relativamente baixos de violência política, os serviços de segurança portugueses, nomeadamente a Unidade Nacional de Contra Terrorismo da PJ e o SIS, incluíram já o aceleracionismo e o ecoterrorismo entre as ameaças emergentes no âmbito do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI). Os riscos principais incluem, a radicalização silenciosa, mais concretamente o recrutamento ideológico através de canais criptografados, o que dificulta a detecção precoce de ameaças, os ataques imprevisíveis e de baixa sofisticação levados a cabo por indivíduos isolados (os lobos solitários) que podem visar instituições públicas, comunidades migrantes, jornalistas ou figuras políticas.
O maior risco da difusão destas ideias é contudo a erosão da confiança democrática. Mesmo sem violência directa, estas ideias corroem o tecido cívico e podem acelerar o apocalipse da democracia se não forem cabalmente combatidas.
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