Você pagaria US$ 200 mil para parecer ter a metade da sua idade?

Meses antes de seu 70º aniversário, Kris Jenner parece ter voltado aos 35 anos. Ou pelo menos é assim que parece quando a matriarca das Kardashians revela um rosto sobrenaturalmente jovem em posts no Instagram antes do chá de panela para Lauren Sánchez no início deste ano.
Parecendo uma de suas filhas, com uma pele surpreendentemente firme, sem rugas, e olhos bem abertos, Jenner logo gera especulações nas redes sociais sobre qual procedimento cirúrgico poderia alcançar resultados que não apenas revertem, mas desafiam completamente os sinais do envelhecimento —e também sobre o cirurgião por trás dessa mágica cosmética.

O trabalho mais recente de Jenner —que seu representante depois confirma ao Page Six ter sido feito pelo médico nova-iorquino Steven Levine— não é a única cirurgia plástica de celebridade a causar frenesi de especulação no TikTok este ano. Em Hollywood, mulheres muito mais jovens, como Emma Stone, 36, Anne Hathaway, 42, e Lindsay Lohan, 39, são alvo de questionamentos sobre possíveis remodelações faciais.
O mesmo acontece com atores como Brad Pitt, Tom Cruise e Bradley Cooper, que chamam atenção por bochechas e mandíbulas definidas, raramente vistas em pessoas de meia-idade. Eles não confirmam publicamente nenhuma cirurgia plástica, no entanto. Lohan, por exemplo, atribui sua aparência renovada a uma nova rotina de skincare, dieta mais saudável e procedimentos menos invasivos, como Botox.
Hoje em dia, muitos parecem estar recorrendo a um procedimento que se popularizou entre os abastados nos anos 1980 e antes era associado a pessoas acima dos 50. Agora, porém, graças a avanços e técnicas cirúrgicas de ponta, ele foi reformulado para o século 21 e para uma base de clientes com menos de 40 anos.
"Houve um renascimento do lifting facial", diz Nora Nugent, presidente da British Association of Aesthetic Plastic Surgeons.
No entanto, o lifting facial passou por uma...revitalização. Embora não exista um único lifting "mágico", os avanços na técnica agora focam em levantar e firmar a parte inferior do rosto trabalhando com o superficial muscular aponeurotic system (SMAS), uma camada essencial para o movimento e sustentação facial.
Segundo o médico estético londrino Jonny Betteridge, "ao reposicionar o SMAS, em vez de apenas esticar a pele, os cirurgiões conseguem resultados mais naturais e duradouros".
O deep-plane facelift (lifting facial em plano profundo, em tradução) vai além, ele acrescenta. "Ao liberar e levantar o tecido abaixo do SMAS, pode proporcionar uma melhora mais significativa na região média do rosto e nas dobras nasolabiais, nos pacientes adequados. Essa abordagem mais profunda pode oferecer um lifting mais abrangente sem uma aparência excessivamente esticada."
Nugent diz que os cirurgiões também aprenderam a combinar bem os liftings faciais com outros procedimentos, como blefaroplastia (cirurgia das pálpebras), transferência de gordura e lifting de sobrancelhas, para resultados mais equilibrados e "harmoniosos". Rejuvenescer uma área e deixar outra ao lado intocada pode chamar atenção para algo artificial, ela explica. Além disso, as habilidades do profissional são essenciais, com um seleto grupo de médicos de elite surgindo. Betteridge observa "uma clara tendência para looks rejuvenescidos e esculpidos, muitas vezes resultado de técnicas cirúrgicas discretas e altamente habilidosas".
Com os padrões de beleza atuais moldados por Ozempic, filtros de imagem online e inteligência artificial —e onde "tweakments" como Botox e preenchimento são cada vez mais a norma—, quem pode pagar está indo cada vez mais longe para alcançar uma estética perfeita (aos seus olhos). E o apetite por esses procedimentos não se restringe apenas a celebridades. Segundo a British Association of Aesthetic Plastic Surgeons, os liftings faciais e de pescoço aumentaram 8% em 2024, enquanto um relatório da American Society of Plastic Surgeons mostra que, nos EUA, houve um aumento de 9% em liftings faciais entre 2022 e 2024. Entre os homens, os liftings faciais e de pescoço subiram 26%.
Cirurgiões atribuem essa tendência mais ampla às melhorias nas técnicas cirúrgicas e à correção do "rosto de Ozempic" —perda de volume e flacidez da pele devido à rápida perda de peso após o uso de medicamentos GLP-1. Também se deve ao aumento de informações nas redes sociais e ao limite alcançado em intervenções não cirúrgicas, como preenchimento e Botox.
Nugent acredita que os resultados impressionantes das novas técnicas de lifting facial estão levando mais pessoas a reconsiderar se valem o investimento financeiro e físico. Os dias dos liftings dos anos 1980, que criavam o "efeito túnel de vento" —pele esticada demais que suavizava rugas mas distorcia os traços— acabaram, ela diz.
Wendy Lewis, consultora da indústria da beleza em Nova York que antes assessorava pacientes particulares sobre cirurgiões plásticos, acrescenta que o que ela descreve como o visual "natural" de Jenner vai inspirar outras a seguirem o exemplo. "Muitas mulheres não percebem que é assim que deveria ser."
Esse cuidado nem sempre sai barato. Os preços variam, mas celebridades de alto escalão geralmente recorrem a cirurgiões caros para deep-plane facelifts, que custam mais que um lifting SMAS, variando de US$ 100 mil (cerca de R$ 539, 2 mil) em Nova York e Los Angeles a mais de US$ 200 mil (cerca de R$ 1,078 milhão), segundo alguns relatos.
A atriz Jameela Jamil escreveu recentemente no Instagram: "É só uma nova forma de elitismo, separando ricos e pobres". Já Wendy Lewis argumenta que parte da competição por cirurgiões top se deve ao branding e recomenda pesquisar para obter os melhores resultados. "[As pessoas] querem o melhor e acham que, quanto mais alto o preço, melhor o trabalho. Não é necessariamente verdade. É só status."
Ainda assim, que tipo de mensagem é transmitida quando você paga por um rosto que desafia descaradamente as leis da física e da biologia? Segundo Paul Hokemeyer, psicoterapeuta clínico e autor de "Fragile Power: Why Having Everything Is Never Enough", antigamente, uma grande cirurgia plástica era algo a ser mantido em segredo. Mas, na era do chamado "boom boom" de Trump —com exibições de riqueza ostensivas, estilo anos 1980—, tanto o procedimento quanto quem o fez podem se tornar cada vez mais algo a ser exibido.
"Cirurgias bem-sucedidas se tornaram um símbolo de status que supera qualquer bolsa Birkin", ele acrescenta. "Ter acesso ao cirurgião certo, que entrega um trabalho impecável, sinaliza não apenas muito dinheiro, mas que você faz parte do círculo interno dos bem-informados."
Hokemeyer diz que o 1% mais rico busca o visual homogeneizado que a cirurgia plástica proporciona, em busca de um senso de pertencimento. "É como a IA nesse aspecto. Todas as formas de individualidade são apagadas. Pessoas em posições de riqueza e poder precisam lidar com pressões culturais que exigem que elas pareçam, ajam e se comportem como outros membros de sua classe social."
Nem todos estão encantados com a ascensão das mudanças faciais, e alguns no mundo do entretenimento têm se manifestado. A atriz Jamie Lee Curtis recentemente expressou horror com mulheres que passaram pelo "complexo industrial cosmético e se desfiguraram". Bonnie Hammer, veterana executiva de estúdios de TV, relata ouvir queixas de diretores e produtores de que "atrizes mais jovens estão parecendo cada vez mais iguais, atrizes mais velhas estão expressando cada vez menos com o rosto, e encontrar alguém para interpretar um personagem comum, 'cotidiano', se tornou extraordinariamente difícil".
Entre não celebridades, o cirurgião plástico londrino Aamer Khan observa um aumento no número de pacientes mais jovens na última década. Essa tendência, que ele atribui às redes sociais e descreve como "embelezamento" —e não como um desejo de rejuvenescer—, pode envolver uma blefaroplastia ou remoção de gordura bucal (entre a bochecha e o osso da mandíbula).
"Quando você olha para a apresentação de alguém nas redes sociais, ela foi digitalmente alterada", diz Khan. "Eles fizeram uma cirurgia digital em si mesmos. Eles gostam dessa versão de si mesmos e a querem."
As atitudes estão claramente mudando. Como The Hollywood Reporter declarou no mês passado, "a cirurgia plástica finalmente saiu do armário, transformando atores em evangelistas e os melhores médicos em superestrelas". Khan atribui essa transparência a uma mudança geracional de atitudes entre os baby boomers —para quem a cirurgia plástica era um segredo vergonhoso— e os menores de 40 anos, mais propensos a vocalizar suas opiniões e comportamentos.
No lado positivo, isso traz transparência a trabalhos antes ocultos. Kylie Jenner, filha de Kris Jenner, de 28 anos, recentemente compartilhou o tamanho exato de seus implantes mamários, a colocação e o cirurgião —Garth Fisher— com uma fã que perguntou no Instagram. Khloé Kardashian revelou sua rinoplastia e preenchimentos, entre outras coisas, em resposta a um vídeo de Betteridge sobre suas mudanças faciais, e disse que está aberta a futuros procedimentos. "Quando chegar a hora, e se eu decidir, conheço alguns ótimos médicos."
O estilista Marc Jacobs documentou seu lifting facial nas redes sociais, criticando o sigilo do passado. "Parece tão louco quando um ator ou figura pública nega que fez algo. E dizem: 'Ah, é azeite de oliva, eu tomo banho de água com gás.' Tipo, qual é. Todas essas coisas podem ser verdade, mas não são a razão pela qual seu pescoço está firme."
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